Quanto mais penso, pior fico. A minha vida é um desastre tão grande… Demasiado dramática! Quem me lê até pode pensar que eu dramatizo demais, só para chamar a atenção. Não me faço de vítima. Não sou desse tipo, tanto que ninguém - daqueles que me rodeiam - sabe como me sinto e já ando assim há dois anos, sensivelmente. Isso sim, é dramático. Nunca fui de chamar a atenção, de todo. Sempre preferi sofrer em silêncio.
Mas tudo apontava para este estado de perdição, misturado com loucura, medo e tristeza. Desde a minha infância que as coisas não batiam certo. Hoje sou um jovem adulto semi-independente, supostamente seguro de si, com formação superior: tinha, supostamente, tudo para ser feliz. Porém, há várias coisas que me apoquentam ainda e me impedem de prosseguir. Para começar, a minha identidade de género é algo que me desfoca, que me afecta, que me magoa. Senti sempre ser um fardo para os outros, uma vergonha. Às vezes chega a passar-me pela cabeça que sou um erro, um mero erro. Para quem está de fora é muito fácil julgar-me só pela minha aparência, pela minha maneira de ser exterior, mas esquecem-se quase sempre que, por dentro, sou tão igual como eles, que temos os mesmos direitos e que ninguém está acima de ninguém. A verdade é que nunca vou ser como a maioria dos rapazes, sejam eles de que orientação sexual forem. Também nunca vou ser como as raparigas porque não tenho os seus atributos físicos. Perdi-me ali no meio desta fronteira. Vou querer ser sempre aquilo que não sou e vou ser sempre aquilo que não quero. O meu cérebro não condiz com o meu corpo. Sou alguém que não deveria ser. E isso foi o rastilho para que muita coisa não corresse bem na minha vida. Tenho de renegar o meu papel social que a sociedade tanto gosta de atribuir às pessoas, consoante o seu sexo.
Depois, a relação dolorosa que tenho com a minha mãe, desde a adolescência, desgasta-me. Nós nunca nos vamos dar completamente bem, porque somos muito diferentes. Eu sei que ela tem orgulho em mim e no meu percurso, mas também sei que não aprova o meu outro lado – a minha maneira de ser. Mas eu nasci assim, não há como contornar isso. Não foi uma escolha e ela nunca vai entender isso, como o resto não entende. Agradeço-lhe muito o que fez por mim quando precisei, nunca me falhou no aspecto financeiro, mas falhou noutras coisas como o afecto e a compreensão. A ausência do meu pai também me custou muito. Eu cresci quase sem a sua figura. Aos 6, 7 anos não é uma boa altura para se lidar com a separação dos pais, mas aconteceu comigo, como deve ter acontecido com outras tantas pessoas. Sofri muito com isso. Magoa-me saber que as duas pessoas que me puseram no mundo, se tornaram uma espécie de inimigos e que nunca mais se vão dar bem. Ainda hoje sofro por saber que tive de lidar com isso tão pequeno. Mas sei que hoje estão ambos felizes, cada um no seu lado e isso de certa forma conforta-me. Mas a verdade é que até os posso perdoar, mas nunca me vou esquecer da pressão da minha mãe e da ausência do meu pai. Isso deixou marcas profundas em mim, impossíveis de apagar.
Quando me mudei para Lisboa, em 2006, as coisas mudaram para melhor. Fiquei a viver por minha conta, sem o controlo da minha mãe. Adorei aquela mudança. Mas agora isso já não chega. Quero ser independente a 100%, quero emancipar-me, em todos os aspectos, de uma vez por todas.
E no meio disto, entra o Hugo: o meu maior dilema. Desisti de tentar perceber porque é que gosto dele. É inexplicável. Só sei que gosto e que nos últimos dois anos foi só nele que pensei. E destrói-me por dentro saber, ou melhor sentir, que só isso incomoda-o. Queria tanto que ele conseguisse encarar isto com naturalidade - somos dois seres humanos, afinal de contas. A certa altura sentia-me a afogar com tanta solidão e com tudo o que se passava no meio familiar e procurei-o com a minha mão para ele me acudir, mas ele nunca esteve lá para mim. Por ele, eu tinha-me afogado. Mas, mesmo assim, não tenho a certeza se ele tivesse sabido que eu estava assim, se não teria agido de outra forma e tido outra postura perante mim. Esta paixão ainda agravou mais o meu estado psicológico, mas eu nunca o culpei por nada. Ele não está minimamente ligado a mim nem sabia o que se passava comigo; só sabe aquilo que vou contando no blogue (e na maior parte das vezes é só sobre ele). Ainda estou à espera dele, à espera que ele me salve deste mar de fogo que me consome a cada dia. Olho para a neblina, mas ele nunca mais aparece. Será que ele vai aparecer algum dia? Será que o preconceito e o receio vão deixá-lo ajudar-me? A pessoa que mais o admirou na vida toda? Será que ele vai conseguir construir uma amizade comigo, algum dia? Só ele pode acabar com o meu drama, mas eu vou procurar arranjar uma forma de compreender se ele não o quiser fazer.
Mas tudo apontava para este estado de perdição, misturado com loucura, medo e tristeza. Desde a minha infância que as coisas não batiam certo. Hoje sou um jovem adulto semi-independente, supostamente seguro de si, com formação superior: tinha, supostamente, tudo para ser feliz. Porém, há várias coisas que me apoquentam ainda e me impedem de prosseguir. Para começar, a minha identidade de género é algo que me desfoca, que me afecta, que me magoa. Senti sempre ser um fardo para os outros, uma vergonha. Às vezes chega a passar-me pela cabeça que sou um erro, um mero erro. Para quem está de fora é muito fácil julgar-me só pela minha aparência, pela minha maneira de ser exterior, mas esquecem-se quase sempre que, por dentro, sou tão igual como eles, que temos os mesmos direitos e que ninguém está acima de ninguém. A verdade é que nunca vou ser como a maioria dos rapazes, sejam eles de que orientação sexual forem. Também nunca vou ser como as raparigas porque não tenho os seus atributos físicos. Perdi-me ali no meio desta fronteira. Vou querer ser sempre aquilo que não sou e vou ser sempre aquilo que não quero. O meu cérebro não condiz com o meu corpo. Sou alguém que não deveria ser. E isso foi o rastilho para que muita coisa não corresse bem na minha vida. Tenho de renegar o meu papel social que a sociedade tanto gosta de atribuir às pessoas, consoante o seu sexo.
Depois, a relação dolorosa que tenho com a minha mãe, desde a adolescência, desgasta-me. Nós nunca nos vamos dar completamente bem, porque somos muito diferentes. Eu sei que ela tem orgulho em mim e no meu percurso, mas também sei que não aprova o meu outro lado – a minha maneira de ser. Mas eu nasci assim, não há como contornar isso. Não foi uma escolha e ela nunca vai entender isso, como o resto não entende. Agradeço-lhe muito o que fez por mim quando precisei, nunca me falhou no aspecto financeiro, mas falhou noutras coisas como o afecto e a compreensão. A ausência do meu pai também me custou muito. Eu cresci quase sem a sua figura. Aos 6, 7 anos não é uma boa altura para se lidar com a separação dos pais, mas aconteceu comigo, como deve ter acontecido com outras tantas pessoas. Sofri muito com isso. Magoa-me saber que as duas pessoas que me puseram no mundo, se tornaram uma espécie de inimigos e que nunca mais se vão dar bem. Ainda hoje sofro por saber que tive de lidar com isso tão pequeno. Mas sei que hoje estão ambos felizes, cada um no seu lado e isso de certa forma conforta-me. Mas a verdade é que até os posso perdoar, mas nunca me vou esquecer da pressão da minha mãe e da ausência do meu pai. Isso deixou marcas profundas em mim, impossíveis de apagar.
Quando me mudei para Lisboa, em 2006, as coisas mudaram para melhor. Fiquei a viver por minha conta, sem o controlo da minha mãe. Adorei aquela mudança. Mas agora isso já não chega. Quero ser independente a 100%, quero emancipar-me, em todos os aspectos, de uma vez por todas.
E no meio disto, entra o Hugo: o meu maior dilema. Desisti de tentar perceber porque é que gosto dele. É inexplicável. Só sei que gosto e que nos últimos dois anos foi só nele que pensei. E destrói-me por dentro saber, ou melhor sentir, que só isso incomoda-o. Queria tanto que ele conseguisse encarar isto com naturalidade - somos dois seres humanos, afinal de contas. A certa altura sentia-me a afogar com tanta solidão e com tudo o que se passava no meio familiar e procurei-o com a minha mão para ele me acudir, mas ele nunca esteve lá para mim. Por ele, eu tinha-me afogado. Mas, mesmo assim, não tenho a certeza se ele tivesse sabido que eu estava assim, se não teria agido de outra forma e tido outra postura perante mim. Esta paixão ainda agravou mais o meu estado psicológico, mas eu nunca o culpei por nada. Ele não está minimamente ligado a mim nem sabia o que se passava comigo; só sabe aquilo que vou contando no blogue (e na maior parte das vezes é só sobre ele). Ainda estou à espera dele, à espera que ele me salve deste mar de fogo que me consome a cada dia. Olho para a neblina, mas ele nunca mais aparece. Será que ele vai aparecer algum dia? Será que o preconceito e o receio vão deixá-lo ajudar-me? A pessoa que mais o admirou na vida toda? Será que ele vai conseguir construir uma amizade comigo, algum dia? Só ele pode acabar com o meu drama, mas eu vou procurar arranjar uma forma de compreender se ele não o quiser fazer.