Alguns dias passaram desde o meu último post e pode parecer que eu me quero afastar do blogue. Na verdade, por vezes, sinto pouca vontade de escrever pelo simples motivo de começar a achar que já não me ajuda. No entanto, continuo a sentir uma grande necessidade de me expressar pela escrita. O facto de chorar todas as vezes que aqui venho escrever pode ser outro motivo resultante desta minha aversão (talvez seja um termo forte demais, mas é o que eu encontro agora) ao blogue.
Tenho tentado nos últimos dois anos manter o pensamento positivo. Mas há coisas que não posso controlar, que me fogem ao controlo. Não posso meter uma coisa na cabeça que é irrealizável, isto é, a possibilidade de eu ter paz e ser feliz tornou-se uma mera fantasia.
O que me faz pensar assim? Honestamente, eu nunca quis retirar o Hugo da minha vida, ou pelo menos, do meu pensamento. Talvez não tenha feito um esforço suficiente para ficar bem. Só me tenho a mim para me culpar. O que sofri até aqui deve-se a uma insistência estapafúrdia da minha parte em acreditar que um dia aquele rapaz, que o destino escolheu aleatoriamente para mim, ia sequer olhar para mim com outros olhos, quanto mais me aceitar! Fui um idiota, cretino, ridículo e por aí fora. Talvez também esteja a exagerar ao punir-me tão severamente assim. Mas as coisas são como são. Estive mal nisto. Estive mal por não ter largado a questão quando ainda era tudo fresco. Devia ter-lhe dado ouvidos. Quando ele me pediu para não falarmos eu devia ter tentado pensar noutras coisas, sair mais, divertir-me mais, mas não. Fiz exactamente o contrário. Deixei o fogo desta paixão queimar tudo à minha volta, enquanto me consumia a mim próprio também. Agora é tarde. Talvez tenha sido inevitável. Se calhar não estava ao meu alcance pôr um fim aos meus sentimentos pelo Hugo. Começo a acreditar que nunca esteve, mas não me estou a desculpabilizar.
Portanto, não vale a pena eu fingir que não gosto dele e que sou indiferente a tudo. Os acontecimentos bizarros continuam a ter lugar. E eu pura e simplesmente não os posso ignorar. Na véspera do meu aniversário, no dia 31, eu ia a caminho do centro comercial para ir jantar. Eram sensivelmente 20 horas. Quando ia a passar por um prédio, sai da porta um rapaz que se não era o Hugo, era um sósia. O tal rapaz levou uns 2 segundos a colocar o carapuço da camisola na cabeça e como era de noite tive dificuldade em confirmar se era mesmo ele ou não. Entretanto, enquanto ele seguia o mesmo caminho à minha frente eu senti-me mal. Tive uma quebra de tensão ou algo do género tal era o meu estado de nervos. O meu coração batia disparadamente. É sempre assim quando o Hugo está por perto. Mais ninguém alguma vez me deixou assim. O mesmo rapaz ia trajado como uma vestimenta desportiva. Estou a referir isto porque o Hugo pode continuar a ler-me aqui e assim ele pelo menos fica a saber disto e se era mesmo ele ou não naquela ocasião. O que me leva fortemente a crer que era ele é a zona onde o sucedido teve lugar: já nos tínhamos cruzado uma vez ali bem perto e eu sei que ele ia para casa naquela vez. Independentemente de ter sido ele ou não, o importante a reter aqui é o impacto que ele causa em mim, mesmo que não fosse ele ou que não estivesse ali realmente presente. A sensação que senti ali a pensar que era ele só prova que isto não só não acabou como está longe de acabar. Eu quase caí literalmente para o chão. :(
No dia seguinte, 1 de Fevereiro, foi o meu 24º aniversário. Foi ruim. Passei-o a terminar um trabalho da faculdade e fui passar o resto da noite a casa da minha mãe, que somente me deu os parabéns e nada mais. Nem presente, nem bolo, nem grandes conversas, mais nada. Já o meu pai esqueceu-se completamente da data, embora a minha avó tenha inventado uma desculpa para o sucedido. Estes são os meus pais e a importância que eu tenho para eles é esta. Já aqui disse e repito: pertenço a uma família de classe média alta, vivo sem necessidades financeiras, mas sinto um vazio sem dimensão dentro de mim. Eu mal consigo escrever sem ter de chorar um bocado. Estou sozinho. Não posso contar com os meus pais ausentes para nada a não ser para lhes pedir dinheiro ou alguma coisa de que necessite. Quanto aos meus amigos, a maior parte nem sequer imagina o que sinto em relação a isto ou como me sinto em relação ao Hugo, pela simples razão de que eu fecho-me e não falo sobre nada que me deixa infeliz. É um defeito meu sofrer em silêncio, mas chamar a atenção não é o meu feitio. As pessoas que já me criticaram e me odeiam sempre tentaram provar isso (que sou um extravagante, que só tenho mania, e mais não sei quê), mas isso é um embuste. Denigram-me à vontade, mas eu nunca vou ser do tipo de pessoas que quer chamar a atenção. O meu sofrimento em silêncio prova-o. Se quisesse ter feito coisas horríveis ao Hugo como vingança poderia tê-lo feito mas não segui esse caminho e nunca o farei. Não sou assim.
No Sábado à noite tive um festa de aniversário de uma amiga que faz anos no mesmo dia que o meu. Fiz um esforço enorme para sair à noite até que cheguei a um ponto que não consegui mais. Aquilo tudo estava a incomodar-me muito. Despedi-me da aniversariante e saí do bar rapidamente. Na rua, enquanto pensava na minha miserável vida e em todos a divertirem-se, senti vontade de chorar mas contive-me.
Prossegui por um caminho doloroso, no qual não tive direito a atalhos. Não há forma de fugir a isto. Ou é isto ou não é nada. A dor amadurece e eu sei que, mais tarde ou mais cedo, eu hei-de encontrar a luz no meio desta escuridão. Quero um dia ser capaz de olhar para trás a sorrir, quando for independente, quando for pós-graduado, quando tiver o meu emprego, quando tiver o meu próprio apartamento numa zona cara em Lisboa, quando for feliz - sozinho. Sozinho porque já não acredito no amor. Não neste mundo infestado de preconceito e vergonha. Acho que é por isso que estou sozinho. Não tive a sorte de me ter apaixonado por alguém que me pudesse aceitar e que gostasse de mim como sou, como todas as minhas imperfeições - uma por uma. Ter uma disfunção de identidade de género (sentir-me mentalmente mais rapariga do que rapaz), ter esta orientação sexual, ter pais ausentes, não ter amigos compreensivos ou atentos, não ser feliz nunca se tratou de uma escolha! O Hugo um dia vai perceber isso, se ele é a boa pessoa que eu julgo que ele é. Mas infelizmente quando ele lá chegar vai ser tarde demais porque nenhum ser humano é feito de ferro embora eu quisesse que assim fosse. Até onde eu vou aguentar é neste momento uma incógnita para mim.
Vou partilhar uma música que tenho andado a ouvir bastante. A cantora dispensa apresentações. A Adele está a dominar o momento. Qualquer pessoa já se deparou com alguma música dela ou na rádio, ou na internet, ou na televisão. Não há como evitar. A música que vou partilhar chama-se "Hometown Glory". O primeiro verso é notável: "Eu tenho estado a andar no caminho em que sempre andei". Isto chamou-me logo a atenção na primeira vez que ouvi. A canção é charmosa, embora eu prefira outras com que me identifico mais - "Someone Like You" ou "Set Fire to the Rain".
Tenho tentado nos últimos dois anos manter o pensamento positivo. Mas há coisas que não posso controlar, que me fogem ao controlo. Não posso meter uma coisa na cabeça que é irrealizável, isto é, a possibilidade de eu ter paz e ser feliz tornou-se uma mera fantasia.
O que me faz pensar assim? Honestamente, eu nunca quis retirar o Hugo da minha vida, ou pelo menos, do meu pensamento. Talvez não tenha feito um esforço suficiente para ficar bem. Só me tenho a mim para me culpar. O que sofri até aqui deve-se a uma insistência estapafúrdia da minha parte em acreditar que um dia aquele rapaz, que o destino escolheu aleatoriamente para mim, ia sequer olhar para mim com outros olhos, quanto mais me aceitar! Fui um idiota, cretino, ridículo e por aí fora. Talvez também esteja a exagerar ao punir-me tão severamente assim. Mas as coisas são como são. Estive mal nisto. Estive mal por não ter largado a questão quando ainda era tudo fresco. Devia ter-lhe dado ouvidos. Quando ele me pediu para não falarmos eu devia ter tentado pensar noutras coisas, sair mais, divertir-me mais, mas não. Fiz exactamente o contrário. Deixei o fogo desta paixão queimar tudo à minha volta, enquanto me consumia a mim próprio também. Agora é tarde. Talvez tenha sido inevitável. Se calhar não estava ao meu alcance pôr um fim aos meus sentimentos pelo Hugo. Começo a acreditar que nunca esteve, mas não me estou a desculpabilizar.
Portanto, não vale a pena eu fingir que não gosto dele e que sou indiferente a tudo. Os acontecimentos bizarros continuam a ter lugar. E eu pura e simplesmente não os posso ignorar. Na véspera do meu aniversário, no dia 31, eu ia a caminho do centro comercial para ir jantar. Eram sensivelmente 20 horas. Quando ia a passar por um prédio, sai da porta um rapaz que se não era o Hugo, era um sósia. O tal rapaz levou uns 2 segundos a colocar o carapuço da camisola na cabeça e como era de noite tive dificuldade em confirmar se era mesmo ele ou não. Entretanto, enquanto ele seguia o mesmo caminho à minha frente eu senti-me mal. Tive uma quebra de tensão ou algo do género tal era o meu estado de nervos. O meu coração batia disparadamente. É sempre assim quando o Hugo está por perto. Mais ninguém alguma vez me deixou assim. O mesmo rapaz ia trajado como uma vestimenta desportiva. Estou a referir isto porque o Hugo pode continuar a ler-me aqui e assim ele pelo menos fica a saber disto e se era mesmo ele ou não naquela ocasião. O que me leva fortemente a crer que era ele é a zona onde o sucedido teve lugar: já nos tínhamos cruzado uma vez ali bem perto e eu sei que ele ia para casa naquela vez. Independentemente de ter sido ele ou não, o importante a reter aqui é o impacto que ele causa em mim, mesmo que não fosse ele ou que não estivesse ali realmente presente. A sensação que senti ali a pensar que era ele só prova que isto não só não acabou como está longe de acabar. Eu quase caí literalmente para o chão. :(
No dia seguinte, 1 de Fevereiro, foi o meu 24º aniversário. Foi ruim. Passei-o a terminar um trabalho da faculdade e fui passar o resto da noite a casa da minha mãe, que somente me deu os parabéns e nada mais. Nem presente, nem bolo, nem grandes conversas, mais nada. Já o meu pai esqueceu-se completamente da data, embora a minha avó tenha inventado uma desculpa para o sucedido. Estes são os meus pais e a importância que eu tenho para eles é esta. Já aqui disse e repito: pertenço a uma família de classe média alta, vivo sem necessidades financeiras, mas sinto um vazio sem dimensão dentro de mim. Eu mal consigo escrever sem ter de chorar um bocado. Estou sozinho. Não posso contar com os meus pais ausentes para nada a não ser para lhes pedir dinheiro ou alguma coisa de que necessite. Quanto aos meus amigos, a maior parte nem sequer imagina o que sinto em relação a isto ou como me sinto em relação ao Hugo, pela simples razão de que eu fecho-me e não falo sobre nada que me deixa infeliz. É um defeito meu sofrer em silêncio, mas chamar a atenção não é o meu feitio. As pessoas que já me criticaram e me odeiam sempre tentaram provar isso (que sou um extravagante, que só tenho mania, e mais não sei quê), mas isso é um embuste. Denigram-me à vontade, mas eu nunca vou ser do tipo de pessoas que quer chamar a atenção. O meu sofrimento em silêncio prova-o. Se quisesse ter feito coisas horríveis ao Hugo como vingança poderia tê-lo feito mas não segui esse caminho e nunca o farei. Não sou assim.
No Sábado à noite tive um festa de aniversário de uma amiga que faz anos no mesmo dia que o meu. Fiz um esforço enorme para sair à noite até que cheguei a um ponto que não consegui mais. Aquilo tudo estava a incomodar-me muito. Despedi-me da aniversariante e saí do bar rapidamente. Na rua, enquanto pensava na minha miserável vida e em todos a divertirem-se, senti vontade de chorar mas contive-me.
Prossegui por um caminho doloroso, no qual não tive direito a atalhos. Não há forma de fugir a isto. Ou é isto ou não é nada. A dor amadurece e eu sei que, mais tarde ou mais cedo, eu hei-de encontrar a luz no meio desta escuridão. Quero um dia ser capaz de olhar para trás a sorrir, quando for independente, quando for pós-graduado, quando tiver o meu emprego, quando tiver o meu próprio apartamento numa zona cara em Lisboa, quando for feliz - sozinho. Sozinho porque já não acredito no amor. Não neste mundo infestado de preconceito e vergonha. Acho que é por isso que estou sozinho. Não tive a sorte de me ter apaixonado por alguém que me pudesse aceitar e que gostasse de mim como sou, como todas as minhas imperfeições - uma por uma. Ter uma disfunção de identidade de género (sentir-me mentalmente mais rapariga do que rapaz), ter esta orientação sexual, ter pais ausentes, não ter amigos compreensivos ou atentos, não ser feliz nunca se tratou de uma escolha! O Hugo um dia vai perceber isso, se ele é a boa pessoa que eu julgo que ele é. Mas infelizmente quando ele lá chegar vai ser tarde demais porque nenhum ser humano é feito de ferro embora eu quisesse que assim fosse. Até onde eu vou aguentar é neste momento uma incógnita para mim.
Vou partilhar uma música que tenho andado a ouvir bastante. A cantora dispensa apresentações. A Adele está a dominar o momento. Qualquer pessoa já se deparou com alguma música dela ou na rádio, ou na internet, ou na televisão. Não há como evitar. A música que vou partilhar chama-se "Hometown Glory". O primeiro verso é notável: "Eu tenho estado a andar no caminho em que sempre andei". Isto chamou-me logo a atenção na primeira vez que ouvi. A canção é charmosa, embora eu prefira outras com que me identifico mais - "Someone Like You" ou "Set Fire to the Rain".