A identidade

Ultimamente, não tenho pensado noutra coisa senão em contar ao Hugo quem sou. Sinto cada vez mais a necessidade de lhe contar. Comm isso espero representar alguma coisa na vida dele, ser alguém, ganhar forma e deixar de ser uma assombração que é o que sinto que fui até agora. Até agora fui uma espécie de espectro, um figura sem forma. Acho importante fazer isto. Acho crucial, aliás. Ele não queria saber quem eu era, terá lá as suas razões. Mas eu pensei: depois disto tudo, não faria sentido não desvendar a minha identidade. Não espero que ele me reconheça à primeira. Foram bastantes as vezes que nos cruzámos, mas eu fui somente um estranho. Agora, ele saberá o meu nome, verá o meu rosto e saberá de quem se trata realmente. Vou sentir um alívio ao fazê-lo, porém sinto também medo. A minha vontade de lhe contar quem sou tem superado esse medo, mas de vez em quando enfraquece. Tive de me convencer de que não há nada certo ou errado. A vida é um caminho. Sigo o meu coração e ele leva-me onde eu devo estar. Quero recusar-me a acreditar no destino. Penso que temos de ser nós a escolher o nosso próprio caminho. Quero batalhar pelo que anseio. Não sei como a minha vida irá mudar com o passar do tempo, com o caminho que escolhi, nem como mudarei a vida de alguém, neste caso a do Hugo. Quero apenas fazer aquilo que acho que tenho de fazer.

O labirinto

Dei conta de que a minha vida pode ser comparada a um labirinto. Procuro saídas - soluções - e caminho até as encontrar. Nessa procura deparo-me com obstáculos. Está complicado em sair deste labirinto obscuro e assustador onde não consigo ver a luz do dia. Vivo num labirinto onde a noite e as trevas imperam e estou à espera de ser salvo pela única pessoa que o pode fazer... Este labirinto tem armadilhas, neste labirinto as feras malvadas caçam as presas sem piedade. Sinto-me uma presa que está à mercê do destino - a maior fera de todas. O labirinto em que a minha vida se tornou não tem dó nem piedade.
Quero impor limites quando a minha paixão em si não tem limites. Quero parar, desistir, quando o que quero é lutar, prosseguir até chegar onde quero. Parece que o labirinto em que se tornou a minha vida não tem saída. Eu corro, eu procuro e não a consigo encontrar. Não me consigo livrar disto e enquanto isso fico com medo do que vem a seguir. E como sobreviver a algo assim? A vida sem esperança é viver no inferno. E eu preciso de esperança para viver. Atrás da paixão as pessoas vão cegas. Quando abrem os olhos vêem coisas que não lhes agrada. À conta disso, tive uma das maiores desilusões da minha vida, se não a maior.
Não consigo evitar de me sentir perdedor. Eu já aqui tinha dito que é como se tivesse perdido uma guerra que já estava perdida mesmo antes de começar. A arma que usei foi a sinceridade. Nunca menti ao Hugo. Quis jogar limpo. Não adiantou. Agora, o meu pensamento tem-se centrado em revelar-lhe a minha identidade. Tenho medo. Mas ao mesmo tempo vai ser um alívio, uma libertação. Estou triste porque sinto que isto não vai acabar bem. Eu nunca lhe pedi nada em troca do que sinto, só diálogo. E se ele não me consegue dar isso, não posso evitar de pensar que isto não vai correr bem. Espero estar enganado. É frequente as pessoas compararem a vida a um jogo. As coisas podem não estar a correr bem e de um momento para o outro vira-se o jogo e até que se vence-o. Será a minha vida um jogo?
O que me resta fazer é continuar à procura do Hugo neste labirinto aparentemente sem saídas. E não preciso somente de esperança para continuar. Preciso de força e coragem e essa é a parte mais difícil.