Pânico

Admitir que eu estava a sofrer de depressão foi duro. Essa foi a parte fatal da história. Eram as consequências a virem à superfície. Acreditem, ninguém é indestrutível ou implacável. Eu pensava que era. As pessoas usam capas para esconderem as suas fraquezas. Eu passei a minha vida inteira a tentar disfarçar a minha verdadeira maneira de ser. Sou frágil, inseguro e melancólico e praticamente ninguém sabe isso de mim porque não é essa a imagem que eu adoptei socialmente (foi uma maneira de me proteger). Acho que ao me ter perdido de amores pelo Hugo e por me ter esforçado tanto a disfarçar aquilo que eu realmente sentia (em festas, saídas à noite, jantares, etc.) isso acabou por destruir-me por dentro e agora vê-se por fora porque já não tenho mais forças para continuar a fingir e a fazer o joguinho do corajoso. Estou em pedaços, como afirmei no post anterior. Não dá mais para fingir que estou com uma força brutal para continuar a caminhada.
Tenho resistido aos comprimidos até aqui. Se bem que, há uns meses fiz uma coisa horrível que me assustou até que tive de parar. Comecei a tomar Xanax XR sem aconselhamento médico. Eu tinha acesso aos comprimidos e nunca ninguém soube o que andei a fazer. Tomava-os nas minhas crises de choro, enquanto me amaldiçoava por gostar do Hugo. Para quem não sabe Xanax XR são comprimidos que contêm benzodiazepina - substância usada contra a ansiedade. São tranquilizantes que criam uma enorme dependência e são uma verdadeira bomba. Apercebi-me que o que estava a fazer não estava correcto, por mais que a minha vida esteja uma porcaria. Parei com aquilo quando apanhei um susto: uma vez ia a levantar-me e quase caí para o chão com as tonturas. Eu estava drogado. Considero aquilo uma droga, ainda que seja legal. Eu não estava a agir bem comigo e desisti daquela parvoíce a tempo. Mas o medo, a angústia, o pavor, a ansiedade, o pânico mantêm-se... E eu tenho de resolver o assunto porque isto está acabar com a minha saúde. Eu não posso pensar sequer em enfrentar o Hugo ou mesmo ir à página dele na rede social que envolvo-me logo numa crise de pânico. É terrível... A pulsação, os calafrios, o batimento cardíaco. Por isso, optei por tomar uns comprimidos mais fracos. Estou a resistir-lhes mas é uma questão de tempo até porque tenho mesmo de os tomar para enfrentar o Hugo. Preciso de me livrar deste pânico que me atormenta e infelizmente os comprimidos serão os meus aliados nesta hora determinante.

Em pedaços / 1000 estrelas

No final da tarde do feriado de 25 de Abril, fui para o mesmo sítio em que estive depois de ter contado ao Hugo o que sentia por ele, em Maio do ano passado. Estava a observar o pôr do sol. Foi como se estivesse a reviver aquele momento. E acho que nunca o descrevi aqui. Maio de 2010, assim que descubro o perfil dele na rede social a minha reacção imediata foi mesmo não ter reacção, paralisei, gelei. Pouco depois comecei a tremer por todos os lados, saí do quarto e corri para o tal sítio. Chorei muito naquele final de tarde, fiquei a ver o anoitecer até me acalmar. Passado quase um ano, pouca coisa mudou. E para mim é quase inacreditável eu estar há tanto tempo agarrado a uma pessoa com quem não partilhei quaisquer momentos. E com toda a minha agonia afirmo que só sei que ele me atrai e que gosto dele. Não há explicação, não há motivos. Só sei que assim é. Quis tanto lutar contra isto ao ponto de me odiar e de odiar a minha maneira de ser. Acho que tornei o meu transgenerismo e homossexualidade meus inimigos por causa do Hugo. Neste último ano duvidei de mim como pessoa. Passei a sentir repulsa de mim mesmo. Chorei noites a fio, sozinho, em que só me apetecia morrer, sem ter ali ninguém que me consolasse. Passei momentos verdadeiramente penosos. Hoje sou uma pessoa fragilizada, assustada, mas com mais experiência e preparação. Não caio no mesmo erro outra vez. Mas isso também não iria acontecer porque será impossível eu apaixonar-me desta maneira por mais alguém. Eu não sei o futuro, ninguém sabe, mas mesmo que o Hugo desapareça da minha vida para sempre ele ao mesmo tempo será eterno. Eu nunca poderei apagar da minha memória aquilo que eu sinto por ele. Nem que eu viva 100 anos. É forte demais para esquecer. E eu quero guardar isso. Quero guardar o que restou de bom (principalmente os sonhos).
Eu sou um no meio de biliões neste planeta. Não quero que ninguém se preocupe comigo, que tenha pena ou que me ajude. Sinceramente não quero, por isso é que não chamo a atenção de ninguém, com atitudes tresloucadas. Por isso mesmo é que sofro em silêncio há mais de um ano. O que eu queria mesmo era que este rapaz me compreendesse, que me visse a chorar, que me estendesse a mão e dissesse que vai ficar tudo bem. Só ele. Na verdade, eu nunca lhe pedi nada em concreto. Nunca lhe pedi ajuda embora ele soubesse que eu estava a sofrer. Eu só implorei-lhe para ele não me fazer isto. Ele ignorou-me completamente. E eu não sei, honestamente, como suportei esta rejeição. Ele percebeu tudo ao contrário. Viu tudo do avesso. Viu a questão por uma perspectiva em que a sexualidade era o mais importante. Eu nunca quis pôr as convicções dele em causa. Eu, acima de tudo, procurei um amigo. E embora isso possa não fazer sentido era exactamente o que eu procurava, um simples amigo. Como somos tão diferentes pensei que a amizade pudesse resultar. Mas ele foi egoísta. E eu fui ingénuo. Ele nunca vai sentir compaixão por mim. Ele nunca vai voltar atrás. Ele nunca me vai aceitar. Perdi. Falhei em todos os aspectos. Não vale a pena eu chorar, espernear, gritar porque nada disso o vai fazer querer-me na vida dele e estar perto dele. A minha vida é uma treta sem sentido algum. Eu tenho feito um esforço sobre-humano na faculdade para ir concluindo as cadeiras em atraso e tenho tido êxito nisso, mesmo que as notas não sejam grande coisa. Acho que afinal consigo licenciar-me este ano, mas isso já não me interessa mais. Odeio o curso, odeio a faculdade, odeio tudo o que lá vivi, tudo o que lá sofri, tudo o que lá chorei. Maldita a hora que fui para ali estudar. Isto tudo tem me revoltado, embora eu mal reaja. Odeio-me, odeio a farsa em que me tornei, odeio a farsa que é a minha vida. Odeio a podridão à minha volta, odeio o preconceito, odeio a indiferença, odeio a intolerância. Não suporto mais nada nem ninguém. Estou sozinho na minha angústia. Estou a sofrer demais. É uma dor indescritível que só me faz querer desaparecer para eu parar de sofrer e não sentir mais isto. Estou em pedaços e preciso de me recompor. Quero chegar ao Hugo e contar-lhe tudo, abrir o jogo, apresentar-me. E vou fazê-lo. Em condições normais nunca o conseguiria fazer, mas com os comprimidos que vou tomar hei-de ficar cá e lá e assim vou conseguir superar este pânico que sinto e falar com ele. Se perdi, não tenho mais nada a perder. Prefiro que ele me odeie e que eu o odeie a ele, prefiro que discutamos, prefiro qualquer coisa a isto. Isto é o inferno e eu quero sair daqui. E se ele ler isto um dia então acho que ele vai entender-me finalmente, que tudo tem um limite e eu cheguei ao meu. A situação tornou-se insustentável. Não dá mais para fugir, para tentar esquecer, etc. Não dá para recuar nem dá para estar em cima do muro. Só dá para saltar e prosseguir. Nada resultou. E aquelas 1000 estrelas lá no céu, as minhas testemunhas nas inúmeras noites de angústia, vão acompanhar-me também nesta última jornada.

Curiosidade: a imagem acima, que faz alusão às "1000 estrelas", foi a imagem que utilizei no primeiro perfil fictício que criei para contactar o Hugo na rede social. Foi a imagem que simbolizou o início. Tem um valor incalculável para mim e é a minha preferida de sempre.

Desilusão

Formalmente, a palavra "Desilusão" significa uma decepção ou desencantamento decorrente de uma experiência negativa profunda; é o acto de desiludir-se, desenganar-se, o que pressupõe que nos enganamos sobre algo ou alguém, que num certo momento, acreditamos. Oscar Wilde disse e muito bem que "no amor todos os caminhos acabam de forma igual - desilusão." Com o passar do tempo isso é cada vez mais claro para mim. A desilusão em que se tornou a minha vida não se deve somente a uma pessoa, mas deve-se principalmente a essa pessoa. Com o resto posso eu bem, acho eu.
Iludi-me... iludi-me quando pensei que podia ser alguém que não sou, iludi-me quando quis ser de uma maneira que não sou, iludi-me quando achei que tudo tinha solução, iludi-me quando quis negar o que sentia, iludi-me ao ter esperança que um dia ia ser feliz. A ilusão faz parte; com ela podemos imaginar tanta coisa. Nela, somos falsamente felizes. Eu fui falsamente feliz, na ilusão. Durou pouco. Ao perceber que o rumo que eu estava a seguir não era aquele que eu tinha em mente, comecei a decepcionar-me. Quando isso acontece cabe-nos a nós voltar para trás e encontrar um caminho melhor. Por que é que eu não voltei para trás quando pude? Sinceramente não sei. Um objecto inanimado não sou. Eu tenho vontades próprias como toda a gente. Talvez o meu problema tenha sido a falta de iniciativa ou determinação. Fui comodista. Deixei andar. E as consequências estão aí. E atrás delas veio a desilusão. Meti-me num curso para o qual acho cada vez mais que não tenho vocação, tive de lidar inúmeras vezes com a maldade e o preconceito das pessoas, decepcionei-me com a minha mãe a tal ponto de não confiar mais na sua pessoa e de nem sequer a suportar, tenho amigos que nunca sequer perceberam o meu estado e tão pouco se importaram com ele, apaixonei-me por uma pessoa que nem sequer se pôs 1 segundo no meu lugar para ver como isto é. A minha vida resume-se a isto. Diz-se que o que não nos mata, torna-nos mais forte. Mas eu não sei se hoje sou uma pessoa mais forte do que era há dois anos atrás. Diferente com certeza serei.
Durante a semana, de manhã, custa-me imenso ter de me levantar e preparar-me para mais um dia. Custa-me mesmo. A força é quase inexistente para enfrentar o mundo lá fora. A depressão deixa as pessoas assim, sem forças e desmotivadas. O esforço que eu faço para ir e estar nas aulas é incalculável. Sinto-me alienado e à medida que me empenho na faculdade vou piorando psicologicamente.
As coisas simplesmente não estão a bater certo. Em mim alguma coisa não está a funcionar correctamente. No último sábado à noite, lá estava eu a jantar sozinho pela milésima vez. A solidão por vezes é um refúgio, mas outras vezes é um martírio. Chorei enquanto comia e via televisão. Ali, naquele momento, não precisava de usar truques nem de disfarçar nada. Estava só eu. Podia ser eu, sem reservas. Passado uns momentos toca o telemóvel e com ele vinha um convite para mais uma saída à noite. E lá fui eu fingir que estava tudo bem e que era uma pessoa super feliz. A pessoa que eu sou socialmente na realidade não existe. Esta semana, esta quinta-feira, discuti mais uma vez com a minha mãe. Não há volta a dar. Acabou. Assim que eu puder desprender-me financeiramente acabou definitivamente. Não entendo por que é que as pessoas odeiam-me tanto. Não encontro o motivo. Por que raio temos de ser todos iguais? Porquê? Se eu nasci transgénero não foi obviamente uma escolha minha. Aconteceu. Foi a Natureza que assim o determinou. E eu não vou lutar contra mim. Já o fiz e sofri muito. Não vou ser o que não sou. Não vou, não é porque não quero, não vou porque não consigo. Não sou igual a ninguém. Eu sou eu. Sou assim e serei sempre assim. E não vou conseguir agradar a todos, Hugo incluído. As pessoas antes de criticarem e gozarem deveriam colocar-se na mesma situação e pensar como seria. Ninguém conseguirá controlar-me. Eu não sou uma marioneta. Qualquer pessoa que me queira fazer de marioneta pode esquecer a minha amizade.
O Hugo é incontornável. É injusto pôr-lhe as culpas em cima, mas também é tão injusto o meu estado. Há uma coisa em que tenho pensado bastante ultimamente. Uma vez um colega meu disse-me (relativamente ao Hugo): "Ah eu sei quem é. Ele tem um ar arrogante, não?". Disse-me também que o Hugo não podia corresponder-me. Eu esqueci aquilo, mas agora não me sai da cabeça. Eu não consigo conceber a ideia que aquele rapaz de quem eu gosto é má pessoa. Não consigo. Mesmo sabendo que ele me tenha tratado com grande desprezo. Eu próprio aparento ser uma pessoa arrogante, fútil, irritante. Mas no meu caso eu uso essa imagem como defesa. Não posso mostrar a parte fraca e deixar os outros pisarem-me como tentam sempre.
Estes tempos são os piores de sempre. Chorar não vai resolver absolutamente nada, mas tem sido um conforto. Não quero baixar os braços e desistir de viver. Mas está complicado. Sinto-me à deriva no mar à espera que me salvem. A pessoa que o podia fazer não quer. E eu sei que ele sabe que eu estou assim. Ele sabe! Até lá, tenho de continuar a fingir que sou forte.

Frases

"A vida mais doce é não pensar em nada." (Friedrich Nietzsche)

"Chorar é diminuir a profundidade da dor." (William Shakespeare)

"No amor todos os caminhos acabam de forma igual - desilusão." (Oscar Wilde)

"O amor é filho da ilusão e pai da desilusão." (Miguel Unamuno)

"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida." (Fernando Pessoa)

"Caminhar apesar da distância;
Vencer apesar dos obstáculos;
sonhar apesar das desilusões;
sorrir apesar das angustias;
acreditar acima de tudo." (Daniel Silveira)

"Um fogo devora um outro fogo. Uma dor de angústia cura-se com outra." (William Shakespeare)

Tempos adversos

Nunca desisto de ficar bem, de procurar o equilíbrio e de preservar a minha estabalidade. No entanto, isso só aconteceria se eu me desligasse totalmente do mundo. Os problemas acabam por vir ter comigo, muito por culpa dos outros: os que me rodeiam e também os que não me rodeiam (Hugo). No início desta semana tive uma grande discussão com a minha mãe (talvez a maior de sempre), com uma valente troca de acusações à mistura. Eu sou apologista de que as pessoas devem sempre dizer aquilo que pensam, que devem ser autênticas. Mas aquilo que ela me disse foi demasiado violento para mim dado o meu estado psicológico actual. Talvez eu tivese lidado melhor com aquilo se não estivesse tão frágil como agora. Talvez. Fico contente por ela me ter dito o que pensava, frente a frente. Prezo pessoas verdadeiras. Mas ao mesmo tempo foi uma desilusão e a nossa relação esfriou e nunca mais vai ser a mesma. Não vai ser porque eu não quero. A nossa cumplicidade que existia morreu. E mal posso esperar por viver a minha vida sem ter de ouvir palpites de alguém. Anseio pela minha independência. A minha semi-independência em Lisboa já não me chega. Por outro lado, as coisas com o meu pai vão bem, acho que nunca estiveram tão bem. Dispõe-se sempre a ajudar, financeiramente (que é o que menos me importa) e psicologicamente. É muito importante para mim o incentivo dele, quer em termos pessoais quer em termos académicos. À lista de chatices, acrescento o meu pânico de andar na rua, particularmente à noite. O assalto do ano passado marcou-me de tal modo que se tornou uma obsessão. Simplesmente tenho aquela sensação de insegurança em todo o lado. Depois, é o meu computador portátil que tem vindo a dar-me dores de cabeça. Actualmente está a ser reparado e já revelo alguma impaciência porque preciso dele por vários motivos. Para além disto tudo, ainda a recorrente história do Hugo. Cada vez que me dirijo a ele na internet, para contar o resto, basta só olhar para ele (fotografia) que fico uma pilha de nervos. Nada feito. Pareço uma gelatina a tremer e fujo dali. Comprimidos: a única maneira. Vou ter de tomar. Sob o efeito deles vai ser mais fácil, porque não vou sentir tanto aquele medo e aquela vergonha de falar com ele. Para completar, junta-se ainda o stress causado pela faculdade (trabalhos e frequências) que me está a esgotar. O sono já nem consegue aliviar o meu cansaço que mais do que físico, é mental. Que tempos adversos estes...

"Tudo Dito"

No outro dia estava a observar o céu à noite e tocou a música "Said It All" dos Take That. O momento foi tão intenso que caiu-me uma lágrima. Foi triste, mas bonito. Apesar de ser a minha favorita nunca me apercebi de como ela se ajusta perfeitamente à minha situação. Fui imediatamente reescrevê-la e esta é a minha versão em português. Basicamente, a letra refere o facto de o diálogo ser inútil e que não há nada a dizer que possa resolver seja o que for.

Quando as lágrimas caem pelo rosto
E não há qualquer diálogo
Não existe nada para partir
Que já não esteja partido
Tu não queres saber
Este silêncio parece eterno

Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Será que alguma vez te interessou?
Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Nada mais importa

Por breves momentos
A expectativa era grande
A dor está a inflamar
Enquanto tu segues o teu caminho
A minha agonia dura há meses e meses

Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Será que alguma vez te interessou?
Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Nada mais importa

As palavras foram um esforço em vão
Tantas coisas ficaram por dizer
O tempo tornou-se um inimigo?
As palavras foram um esforço em vão
Tantas coisas ficaram por dizer
O tempo tornou-se um inimigo?

Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Será que alguma vez te interessou?
Tudo dito
Não há nada a dizer
Nada que te possa interessar
Nada mais importa

Miguel

Eu sei, agora sei

Quanto mais eu desejei este rapaz, mais longe ele ficou. Quanto mais eu quis ficar bem, pior fiquei. A vida é irónica. As melhores coisas que nos acontecem são aquelas que são totalmente inesperadas. Mas não fui nem vou ser capaz de adoptar essa atitude passiva de esperar pelo inesperado. Prefiro correr riscos e desafiar a ironia que é a vida.
Apesar de todos os dissabores que esta história me trouxe, finalmente sei que a minha vida ganhou um rumo e eu uma razão de existir. Não havia nada disso na era pré-Hugo. Não havia nada de empolgante que me fizesse vibrar. Eu achava que havia. Sei que gostar assim tanto de uma pessoa não é bom para a alma, que não é saudável. Sei que ele não quer saber nem um pouco de mim. Sei que ele nunca olhou para mim com interesse. Mesmo assim, valeu a pena. Senti-me vivo, senti o meu coração bater depressa, chorei lágrimas autênticas, tremi e enervei-me. Tudo por causa dele. Nunca senti algo tão forte. Foi a primeira vez. Não foi propriamente bom, mas foram sinais de que eu estava vivo. Viver é sofrer também. E se eu sofri por ele fico com a certeza de que isto não foi um capricho ou uma brincadeira. Posso não ser feliz agora, mas também não fui anteriormente. A diferença é que antes eu não sabia que que não era feliz e agora sei.

Para reflectir...

Estava na faculdade, a deambular pelos corredores e encontrei a porta de uma sala aberta. Era uma sala grande, utilizada para conferências e exames. Entrei e ali fiquei a reviver momentos e a mergulhar nas memórias. Ali estive várias vezes perto do Hugo. A emoção foi tal que tive de me conter para não derramar lágrimas. Foi intenso e triste, aquele momento. Não pude evitar. Ele está ausente, mas eu sinto-o em toda a parte. Simplesmente não consigo deixar de pensar nele ou de me lembrar dele e isso põe-me a reflectir. Estou assustado com a influência que este rapaz tem sobre mim, estou assustado com a expressividade que ele tem na minha vida. O tempo não se tornou meu aliado. Pelo contrário, ele é definitivamente um inimigo. Em nada me ajudou e em tudo me prejudicou. Resta-me combatê-lo e apresentar-me sem rodeios à pessoa que mais importância tem na minha vida. Só estou à espera que esta má fase passe, porque a vontade, essa, é muita.

Por fora, eu era tudo o que um rapaz de bem deveria ser. Por dentro, eu estava aos gritos. Sentia-me à beira de um princípio, sem ninguém que se importasse ou notasse sequer. O que me teria acontecido para achar que não tinha outra saída? Foi tudo, foi o meu mundo e foram as pessoas que o integram, principalmente o Hugo. A inércia da minha vida deixou-me afundar e a minha incapacidade não o impediu. Preciso de deitar isto cá para fora. Não sou idiota. Sei como funciona o mundo. Sei que não posso oferecer ao Hugo o que ele quer porque não sou, nem de perto nem de longe, aquilo que ele pretende. Mas estou muito envolvido. Não consigo desistir enquanto não souber que tentei tudo, até à exaustão. É o que quero fazer agora. Facto é que fui encurralado. Morrerei se não me libertar. Agora talvez não porque provo a mim mesmo, a cada dia que passa, que sou forte, mas mais cedo ou mais tarde, o meu fogo extinguir-se-á e eu precisarei de ser salvo, se assim for. A questão é: será que o Hugo está disposto a salvar alguém que gosta dele, mas que ele ignora?