À espera do inesperado

A perda de um familiar próximo deixou-me obviamente emotivo, mas mais do que isso, deixou-me pensativo. Estou completamente obcecado com o sentido da vida. Será que vale a pena tanta gente desentender-se quando a vida é tão curta? Se bem que no meu caso nem houve um desentendimento. Não houve absolutamente nada. E é esse o problema aqui. O Hugo fugiu, sem querer saber o que isto era realmente e sem se importar minimamente como eu ia ficar. Sendo a vida tão curta, haverá mesmo necessidade de haver tanto desprezo, ódio, preconceito e tantas outras coisas neste mundo? No final, ninguém vive para sempre! Acho tudo tão despropositado, mas talvez esteja a simplificar demais.
Sinto-me à espera do inesperado. Sinto-me à espera que um dia o Hugo volte atrás e me procure, esteja eu onde estiver - no meu mundo, onde criei um milhão de fantasias e onde calculei uma infinidade de possibilidades. Tenho estado à espera de um comentário, de um email, de um telefonema. Tudo possibilidades remotas. Estou à espera do inesperado, à espera daquilo que não vai acontecer. Sinceramente não sei mais o que posso fazer em relação a isto. Para mim, desistir de um sonho é como uma facada nas costas mas eu estou cansado de ser ingénuo. Estou cansado de querer acreditar que vou ter um final feliz como nos contos de fadas. Tenho de admitir e principalmente aceitar que tanto eu como o Hugo sabemos que eu não sou quem ele precisa. E não se trata aqui de uma questão de incompatibilidade de personalidades, porque nós mal nos conhecemos. Trata-se de algo mais profundo, uma incompatibilidade de estilos de vida, e claramente, uma incompatibilidade sexual. Tudo se resume a isso, infelizmente. Não quero ler mais aquele post Azul & Rosa no qual falei sobre isso, só para não ter que me desmanchar a chorar outra vez. Tenho de me conformar que não tive a sorte que milhões de pessoas tiveram, de me ter apaixonado por alguém que podia ser aquilo que eu mais desejava e que me podia completar. Eu nunca vou conseguir essa plenitude! O Hugo é o tal, é a pessoa que eu mais quis ter ao pé de mim, mas eu não sou quem ele precisa nem quem ele quer. Simples e doloroso, mas é a realidade.
Decidi continuar, não desistir, mas não está a dar. Não estou a conseguir. Não sou de ferro. Procurei coragem para isto que nunca cheguei a ter de facto. O máximo que posso fazer daqui para a frente é falar-lhe mais uma vez, dizer-lhe como me sinto e depois cabe-lhe a ele a decisão se me quer por perto que vai ser obviamente um "Não!".
Até lá, vou continuar à espera do inesperado...

Momento difícil

O meu avô não me tem saído da cabeça desde Terça-feira. Este tem sido um momento difícil. Ontem à noite nem sequer consegui dormir. Antes de adormecer passei por um momento penoso de choro. Tenho ideia de que era o neto que mais orgulho dava ao meu avô. Não é que ele tivesse preferidos, mas posso afirmar que fui o único que não teve desavenças com ele. Talvez porque eu tenho paciência para as pessoas mais velhas e não é bem o caso dos meus primos e do meu irmão.
Acabei por não ir ao funeral por encontrar-me em Lisboa. Achei a chamada telefónica do meu irmão surpreendente (visto que não somos nada próximos, como nunca fomos), na qual me disse que não havia necessidade de eu sair de Lisboa para ir ao funeral porque toda a família iria. Realmente, eu tinha um trabalho para entregar e mais uma aula e não tinha hipótese, mas eu queria ter ido. Como não fui, vou esta Sexta-feira ao cemitério pôr uma flor. Não me vai fazer nada bem, mas preciso de o fazer - é uma espécie de libertação.
O meu avô vai fazer-me falta como já está a fazer. Embora ninguém tenha culpa, devia ter-lhe dado mais atenção nos seus últimos tempos de vida e não o fiz. E já expliquei a razão por que não o fiz. Não consegui porque o meu pensamento estava voltado para uma paixão que não foi bem sucedida e tudo o resto, para mim, era irrelevante. Dei o meu avô como algo garantido e agora ele foi-se e nunca mais vamos voltar a conversar. Nunca mais vou ouvir as suas história de vida. Isso entristece-me profundamente, mas a vida continua e eu ainda tenho várias metas para alcançar.

Nada é dado como garantido!

Hoje aprendi mais uma lição. Na semana passada quando o meu avô saiu do hospital dei como garantida a sua permanência entre nós durante mais algum tempo. Enganei-me. E não lhe dei a atenção devida nos seus últimos tempos de vida, porque a minha cabeça, no meio desta desilusão amorosa, não dá para mais. O tempo livre que tenho gasto-o a pensar em alguém que não me liga a mínima e enquanto isso vou negligenciando quem realmente gostava ou gosta de mim. Perdi o meu avô materno na altura mais complicada da minha vida. Sinto remorsos por não o ter apoiado suficiente no seu declínio. E não me perdôo por isso. Eu bem via, mas não fui capaz. Tenho medo de ter sido egoísta. No meio destas lágrimas, sinto raiva e tristeza. Estou desapontado comigo mesmo. Continuo a fazer tudo ao contrário.
Não sei como vou conseguir estar naquele funeral amanhã, com aquela gente toda. Não sei mesmo. É o último sítio onde eu queria estar. Tento de afastar a tristeza da minha vida, mas ela persegue-me.
Mas tenho de ver isto como uma lição. Daqui para a frente tenho de dar o devido valor a quem me dá a mim, antes que seja tarde de mais. Nada é dado como garantido. É em vida que temos de perseguir os nossos sonhos, é em vida que temos de apoiar quem nos respeita e gosta de nós, porque depois disso não há rigorosamente mais nada.

Mais uma situação inesperada / Aniversário

Alguns dias passaram desde o meu último post e pode parecer que eu me quero afastar do blogue. Na verdade, por vezes, sinto pouca vontade de escrever pelo simples motivo de começar a achar que já não me ajuda. No entanto, continuo a sentir uma grande necessidade de me expressar pela escrita. O facto de chorar todas as vezes que aqui venho escrever pode ser outro motivo resultante desta minha aversão (talvez seja um termo forte demais, mas é o que eu encontro agora) ao blogue.
Tenho tentado nos últimos dois anos manter o pensamento positivo. Mas há coisas que não posso controlar, que me fogem ao controlo. Não posso meter uma coisa na cabeça que é irrealizável, isto é, a possibilidade de eu ter paz e ser feliz tornou-se uma mera fantasia.
O que me faz pensar assim? Honestamente, eu nunca quis retirar o Hugo da minha vida, ou pelo menos, do meu pensamento. Talvez não tenha feito um esforço suficiente para ficar bem. Só me tenho a mim para me culpar. O que sofri até aqui deve-se a uma insistência estapafúrdia da minha parte em acreditar que um dia aquele rapaz, que o destino escolheu aleatoriamente para mim, ia sequer olhar para mim com outros olhos, quanto mais me aceitar! Fui um idiota, cretino, ridículo e por aí fora. Talvez também esteja a exagerar ao punir-me tão severamente assim. Mas as coisas são como são. Estive mal nisto. Estive mal por não ter largado a questão quando ainda era tudo fresco. Devia ter-lhe dado ouvidos. Quando ele me pediu para não falarmos eu devia ter tentado pensar noutras coisas, sair mais, divertir-me mais, mas não. Fiz exactamente o contrário. Deixei o fogo desta paixão queimar tudo à minha volta, enquanto me consumia a mim próprio também. Agora é tarde. Talvez tenha sido inevitável. Se calhar não estava ao meu alcance pôr um fim aos meus sentimentos pelo Hugo. Começo a acreditar que nunca esteve, mas não me estou a desculpabilizar.
Portanto, não vale a pena eu fingir que não gosto dele e que sou indiferente a tudo. Os acontecimentos bizarros continuam a ter lugar. E eu pura e simplesmente não os posso ignorar. Na véspera do meu aniversário, no dia 31, eu ia a caminho do centro comercial para ir jantar. Eram sensivelmente 20 horas. Quando ia a passar por um prédio, sai da porta um rapaz que se não era o Hugo, era um sósia. O tal rapaz levou uns 2 segundos a colocar o carapuço da camisola na cabeça e como era de noite tive dificuldade em confirmar se era mesmo ele ou não. Entretanto, enquanto ele seguia o mesmo caminho à minha frente eu senti-me mal. Tive uma quebra de tensão ou algo do género tal era o meu estado de nervos. O meu coração batia disparadamente. É sempre assim quando o Hugo está por perto. Mais ninguém alguma vez me deixou assim. O mesmo rapaz ia trajado como uma vestimenta desportiva. Estou a referir isto porque o Hugo pode continuar a ler-me aqui e assim ele pelo menos fica a saber disto e se era mesmo ele ou não naquela ocasião. O que me leva fortemente a crer que era ele é a zona onde o sucedido teve lugar: já nos tínhamos cruzado uma vez ali bem perto e eu sei que ele ia para casa naquela vez. Independentemente de ter sido ele ou não, o importante a reter aqui é o impacto que ele causa em mim, mesmo que não fosse ele ou que não estivesse ali realmente presente. A sensação que senti ali a pensar que era ele só prova que isto não só não acabou como está longe de acabar. Eu quase caí literalmente para o chão. :(
No dia seguinte, 1 de Fevereiro, foi o meu 24º aniversário. Foi ruim. Passei-o a terminar um trabalho da faculdade e fui passar o resto da noite a casa da minha mãe, que somente me deu os parabéns e nada mais. Nem presente, nem bolo, nem grandes conversas, mais nada. Já o meu pai esqueceu-se completamente da data, embora a minha avó tenha inventado uma desculpa para o sucedido. Estes são os meus pais e a importância que eu tenho para eles é esta. Já aqui disse e repito: pertenço a uma família de classe média alta, vivo sem necessidades financeiras, mas sinto um vazio sem dimensão dentro de mim. Eu mal consigo escrever sem ter de chorar um bocado. Estou sozinho. Não posso contar com os meus pais ausentes para nada a não ser para lhes pedir dinheiro ou alguma coisa de que necessite. Quanto aos meus amigos, a maior parte nem sequer imagina o que sinto em relação a isto ou como me sinto em relação ao Hugo, pela simples razão de que eu fecho-me e não falo sobre nada que me deixa infeliz. É um defeito meu sofrer em silêncio, mas chamar a atenção não é o meu feitio. As pessoas que já me criticaram e me odeiam sempre tentaram provar isso (que sou um extravagante, que só tenho mania, e mais não sei quê), mas isso é um embuste. Denigram-me à vontade, mas eu nunca vou ser do tipo de pessoas que quer chamar a atenção. O meu sofrimento em silêncio prova-o. Se quisesse ter feito coisas horríveis ao Hugo como vingança poderia tê-lo feito mas não segui esse caminho e nunca o farei. Não sou assim.
No Sábado à noite tive um festa de aniversário de uma amiga que faz anos no mesmo dia que o meu. Fiz um esforço enorme para sair à noite até que cheguei a um ponto que não consegui mais. Aquilo tudo estava a incomodar-me muito. Despedi-me da aniversariante e saí do bar rapidamente. Na rua, enquanto pensava na minha miserável vida e em todos a divertirem-se, senti vontade de chorar mas contive-me.
Prossegui por um caminho doloroso, no qual não tive direito a atalhos. Não há forma de fugir a isto. Ou é isto ou não é nada. A dor amadurece e eu sei que, mais tarde ou mais cedo, eu hei-de encontrar a luz no meio desta escuridão. Quero um dia ser capaz de olhar para trás a sorrir, quando for independente, quando for pós-graduado, quando tiver o meu emprego, quando tiver o meu próprio apartamento numa zona cara em Lisboa, quando for feliz - sozinho. Sozinho porque já não acredito no amor. Não neste mundo infestado de preconceito e vergonha. Acho que é por isso que estou sozinho. Não tive a sorte de me ter apaixonado por alguém que me pudesse aceitar e que gostasse de mim como sou, como todas as minhas imperfeições - uma por uma. Ter uma disfunção de identidade de género (sentir-me mentalmente mais rapariga do que rapaz), ter esta orientação sexual, ter pais ausentes, não ter amigos compreensivos ou atentos, não ser feliz nunca se tratou de uma escolha! O Hugo um dia vai perceber isso, se ele é a boa pessoa que eu julgo que ele é. Mas infelizmente quando ele lá chegar vai ser tarde demais porque nenhum ser humano é feito de ferro embora eu quisesse que assim fosse. Até onde eu vou aguentar é neste momento uma incógnita para mim.
Vou partilhar uma música que tenho andado a ouvir bastante. A cantora dispensa apresentações. A Adele está a dominar o momento. Qualquer pessoa já se deparou com alguma música dela ou na rádio, ou na internet, ou na televisão. Não há como evitar. A música que vou partilhar chama-se "Hometown Glory". O primeiro verso é notável: "Eu tenho estado a andar no caminho em que sempre andei". Isto chamou-me logo a atenção na primeira vez que ouvi. A canção é charmosa, embora eu prefira outras com que me identifico mais - "Someone Like You" ou "Set Fire to the Rain".