O cometa

Começo a sentir-me deprimido outra vez e já lá vai o Natal. E não, ainda não contei. Senti um impulso enorme ontem, mas sempre que chego à página do Hugo começo a ficar mal disposto, entro em pânico. É uma sensação que nem sequer gosto de me lembrar.
Sou um cometa que anda de um lado para o outro e nunca se sabe ao certo por onde vai passar. Quero fazer uma coisa, mas faço outra. Sinto uma coisa e digo aos outros que sinto outra. Estou cada vez mais sem rumo, sem direcção definida.
Sou um cometa que parece perder o brilho à medida que se afasta - quando me afasto do meu objectivo. E é isso mesmo que sinto: a perder a luz, a claridade, a cor. Em vez disso, devia iluminar-me, sair da escuridão, ir para onde devo estar, deixar de andar às voltas. Mas tomar essa atitude não é fácil. Não é fácil sair da escuridão e de repente ter todos os holofotes apontados a mim. Chamar a atenção dele sempre foi o que eu quis, mas de alguma maneira isso assusta-me. Talvez porque haja outros factores à volta disso. Sei que mesmo que peça para ele não contar a ninguém próximo, ele irá fazê-lo e isso pode afectar-me. A humilhação é tudo o que menos preciso agora e temo que eu venha a fazer alguma coisa impensada por causa disso. Mas não posso pensar mais nisso. Preciso de me concentrar, porque o cometa a uma hora vai ser visto. Espero ansiosamente pelo próximo impulso para acabar com esta agonia que até já me conplicou a saúde.

Mais de 1000 visitas

Quando comecei este meu blogue pessoal nunca sequer pus a possibilidade de que seria lido por centenas de pessoas. Para mim é uma grande surpresa e uma satisfação, ao mesmo tempo. Saber que há centenas de pessoas que se interesseram ou preocuparam ou que simplesmente se sentiram curiosas acerca do que se passa comigo para mim é muito gratificante. Até Agosto eu chorava e sofria em silêncio, em plena solidão. Agora posso dizer o que sinto sempre que quiser e ainda sei que alguém está a ler-me e vai saber isso.
Obrigado a todos aqueles que me apoiaram, me incentivarem e que acreditaram em mim. Obrigado a todos os presentes no momento menos feliz da minha vida. Obrigado.

Miguel

O meu fogo de artifício

Quinta-feira, dia 23 de Dezembro. A semana decorre com calma. É provavelmente a semana menos melancólica dos últimos meses. Desde a minha decisão sinto-me mais leve e também mais pensativo e abstraído. Na verdade, sinto pavor do que vou fazer e o Natal está a chegar. Mas o peso em cima de mim já estava insuportável. Não consegui carregá-lo mais. E embora o Hugo tenha me dito que era melhor não saber quem eu era, na única vez que me falou, é o que irei fazer. Não posso prejudicar-me assim. Não acho certo. Não vejo mais motivos para me esconder. Mereço, como qualquer outro amigo que ele preza, ser alguém na vida dele. A minha mente está finalmente limpa das porcarias que pensei meses a fio. Não sinto mais culpa. Aceitei a realidade tal como ela é. Mas além do pavor que tenho de lhe contar, há um factor ainda mais profundo no meio disto tudo. A desilusão, que me tem ameaçado. Não quero que ele me desiluda com nenhuma atitude insensata, mesmo sabendo que acaberei por perdoar-lhe tudo. Desejo que ele consiga pensar pela cabeça dele, sem influências de outrém, sem a maldade alheia. Se ele assim o fizer, irá conseguir aceitar-me e mudar a opinião a meu respeito.
Ele precisa de entender de uma vez por todas que eu não escolhi isto. Nem escolhi ser assim. Será que tenho de ser punido por algo que nunca controlei e que me ultrapassa? Verdade seja dita e tenho de estar ciente...A minha tarefa não é nem nunca foi flor que se cheire. Tenho cerca de 5 a 10% de hipóteses de conseguir chegar perto dele e essa escassa percentagem pode representar pena. E a pena dele não quero, de modo algum. Não o posso obrigar a aceitar-me, mas posso fazê-lo ver a verdade dos factos. Não quero pensar no futuro, que me assusta. Quero pensar no presente e no que tenho de fazer para me sentir melhor.
Senti-me, vezes sem conta, um castelo de cartas a um sopro de desmoronar, um desperdício de espaço, um saco plástico a flutuar no ar. Até cheguei a pôr em causa a minha existência e arrependo-me um bocado disso, já que a vida é tão curta e mal aproveitada. A minha vida tornou-se uma noite eterna, uma escuridão sem fim. Ele é o fogo de artíficio que me ilumina nessa escuridão. E eu preciso desse fogo de artíficio para colorir a vida cinzenta que tenho tido. Se existir uma faísca, há uma chance. Preciso urgentemente de luz e cor e de transformar a tempestade em arco-íris.

200 KM/H em linha recta!

Terça-feira, dia 21 de Dezembro de 2010. Finalmente, pus na cabeça que vou-lhe contar... O Natal será ou não uma boa ocasião? Não sei. Mas isto tinha de ser feito e foi agora que me senti mais capaz para fazê-lo. Esta noite até sonhei que já o tinha feito tal é a ansiedade. Já aqui disse e repito: quero ser alguém de carne e osso na vida dele, cansei-me de ser um espectro. Quero representar algo na vida dele, quero ser importante para ele. Desespero por isso. :( Esconder-me atrás de uma cortina de anonimato nunca me vai permitir isso.
Desde esta decisão sinto-me a acelarar numa linha recta em direcção à meta que quero alcançar, sem tempo para pensar em mais nada ou ver à minha volta o quer que seja. Estou em alta velocidade em busca do meu sonho, em direcção à pessoa que me faz sentir mil e uma coisas. Se tenho medo disso? Claro que tenho. Honestamente, a ideia assusta-me. Mas é aquilo que tenho de fazer para retirar este peso de cima de mim.

Ciúmes, materialidade vs afecto, erros

Domingo, dia 19 de Dezembro de 2010. Não há forma de afastar a minha tristeza quando todos parecem ser importantes para ele menos eu. É inútil tentar. Porque é que o Hugo faz tanta questão de me deixar a mim de lado? Só queria que isto fosse mentira, que não fosse real, para não ser magoado desta maneira. Obter a consideração e a atenção dele parece ser a tarefa mais árdua a que me propus. Outro problema que atravesso são os ciúmes que sinto dele. Vê-lo com todos os amigos não me incomoda, fico feliz que ele tenha pessoas com quem possa contar. Mas sinto ciúmes da atenção que todas essas pessoas conseguem dele enquanto eu não consigo sequer um simples "olá". Isso deixa-me extremamente abatido. Saber que ele sai e diverte-se com aquela gente toda, provavelmente nos mesmos exactos momentos eu que eu deito lágrimas e mais lágrimas por ele. Porém, não estou a queixar-me, nem poderia. Esta foi a tarefa que designei para mim. Sou o responsável por ela. Resumindo, fui eu que me apaixonei.
Fui e sou uma pessoa mimada. Sempre me deram tudo aquilo que quis. E agora vem aí o Natal e eu sem espírito nenhum. Presentes não me interessam mais. Os bens materiais perderam o significado para mim. Roupas e calçado de marca, perfumes caros, cosméticos, tudo deixou de ter importância para mim. Outrora, eram a minha vida. Só queria que os meus pais (cada um no seu lado, como já aqui disse) percebessem que só os bens materias não me fazem feliz. Que por mais que me dêem tudo, isso não me faz feliz. Eu tenho tudo e não tenho nada, eu tenho bens mas não o afecto de quem quero.
A minha vida estagnou. Procuro uma forma de a reanimar, quando a única forma que encontro não está ao meu alcance. Eu parei de me culpabilizar por me ter interessado em alguém que não sabe gerir a situação, que foge de mim e que não me compreende. Mas não posso deixar de admitir que errei. Que quem começou esta confusão toda fui eu e apenas eu. Mas como qualquer outro ser humano, errar faz parte do meu quotidiano. Não que a minha paixão em si seja um erro. Mas as circunstâncias que a envolvem são. Honestamente, saber que ele não cede um milímetro há meses assusta-me. Depois de tudo que lhe confessei, não sei mais o que o pode comover. Não sei mesmo. Estou num fogo cruzado onde não sei para onde me virar. Não quero parar, mas também não sei para onde ir. Pedi-lhe mais do que uma vez para ele se colocar no meu lugar, mas acho que ele ainda não conseguiu.

Num mar de pensamentos

Sábado, dia 18 de Dezembro de 2010. A minha mente mergulhou num mar de pensamentos. Torna-se quase impossível concentrar-me no quer que seja actualmente. Sinto cada cez mais vontade e necessidade de escrever sobre o que passa comigo. Aquilo que sinto pelo Hugo é cosmológico. Ele é o meu 1 num milhão. Não tem explicação. Não há teoria que possa explicar. E isto não é uma brincadeira, como ele primeiramente pensou. Antes fosse. É provavelmente a maior prova de fogo da minha vida. Eu luto e luto e luto na esperança de chegar onde quero, mas não depende só de mim. As interrogações multiplicam-se à medida que o tempo passa...Será que vale a pena tudo o que me está a acontecer? Será que há uma recompensa à minha espera? Será que depois da tempestade vem a bonança? Por outras palavras, será que um dia ele aceitar-me-á tal como eu sou, sem preconceito, e tirar-me-á deste sofrimento que me mata lentamente?
De Janeiro a Maio tive medo de nunca arranjar forma de lhe contar o que sinto por ele. De Maio a Dezembro sinto medo que ele nunca me venha a comprender e a aceitar. E isso está a incomodar-me consideravelmente. Com o passar do tempo, sinto-me cada vez mais vazio, incompleto e cansado. Posso estar num sítio com 500 ou 1000 pessoas, sentirei-me sempre dessa forma. E garanto que isso não é, nem de perto, agradável. É muito doloroso para mim sentir-me incompreendido, sentir-me deslocado do todo. Sinto-me dentro de uma bolha a sufocar no meio de uma multidão que não irá sequer imaginar minimamente o que se passa comigo. Sinto-me suspenso no ar. Lembram-se de ter mencionado o facto de dar dois passos para a frente e três passos para três na linha interminável? Neste momento estou suspenso no ar, sem conseguir fazer nada, sem conseguir prosseguir.
Tenho medo de pedir ajuda e de ele não me acudir. É esse o meu maior medo. Acho que poderia dar alguma cor à vida dele, dar-lhe diversidade. Sei que não lhe causo repulsa mesmo encontrando-me ainda no anonimato, sei que represento um dos maiores mistérios da sua vida, talvez o maior. Cada vez mais preciso e anseio pela sua aprovação. Pela sua permissão. De certa forma, entrei na vida dele sem licença. Invadi o espaço dele, embora não o tenha feito por mal, como é lógico. Nem precisaria de dizer isso, nesta altura do campeonato.
Os meus pensamentos continuam a fluir quando o fim parece estar cada vez mais longe...E eu cada vez mais sozinho.

Da opção à obrigação

Dia 16 de Dezembro de 2010. Mais um dia deprimente, um de tantos numa semana melancólica. Se eu pensava que andava triste nos últimos meses, então é porque ainda não tinha chegado a este ponto. Isto é que é realmente estar triste. Antes de sair de casa, para mais um dia na atribulada cidade de Lisboa, tive de chorar. Deu-me vontade e deixei as lágrimas cair. Agora raros são os momentos em que o Hugo não está no meu pensamento. Em vez disso me fazer sorrir, faz-me chorar porque apesar de eu estar meio afectado psicologicamente, ainda consigo ver que as coisas não têm tomado o seu melhor rumo e se calhar a culpa também é minha. Faculdade, jantar no centro comercial (onde tive outro ataque de ansiedade), vinda para casa. Continuo na mesma. Há bocado, estava aqui no computador e vi uma foto dele e deu-me vontade de ver, mesmo que isso já não me faça bem. Olhei, sorri, e sem vergonha confesso, que lhe dei um beijo no rosto. Nunca o tinha feito. Ficou a marca no visor por eu estar a usar protector de lábios. Depois, fui para a varanda contemplar as estrelas e enquanto ouvia isto chorei.
O mundo desabou em cima da minha cabeça. Parece-me tudo tão errado. Está tudo mal. A minha vida simplesmente não tem sentido. Folgo em saber que ele está bem. Ainda assim, tenho esperança de que ele não se esqueça de como estou. Mesmo estando mal assim, preocupo-me com ele e com os meus amigos. Isto porque pus sempre os outros à minha frente. Acho que vou ser sempre assim, embora numa tentativa de emancipação nunca o demonstre. Continuo a ser uma pessoa responsável e ambiciosa, mas faço o que tenho a fazer sem gosto nenhum. Essa é a grande diferença desde há um ano para cá.
Estou a ficar obcecado com a hipótese dos amigos dele me chatearam após eu contar-lhe quem realmente sou e sinto muito medo disso. Pensei nisso enquanto estava na varanda. Vou implorar-lhe que não conte a ninguém e que não me cause mal algum. As razões são óbvias: eu estou longe de ser um inimigo. Eu quero e tenho de fazer isto. Já não se trata de uma opção, mas de uma obrigação. Agora é só uma questão de tempo. Vou continuar e vou insistir nisto, mesmo desaconselhado a fazê-lo. Todos estão com o coração no sítio certo e sei que querem o meu bem. Não vou defendê-lo ou descupabilizá-lo. Eu sou ao primeiro a repudir as suas atitudes. Mas eu sei que este rapaz tem um bom íntimo, que é uma pessoa bondosa e culta. Eu sei, eu sinto. Eu não inveitei isso. Eu nunca me apaixonaria por alguém reles e vil. Eu estive a minha vida toda na defensiva a impedir isso. A minha vida foi e é uma constante luta nesse sentido (manter-me longe de gente que não presta). Noutras palavras, briguei contra o destino para evitar desilusões amorosas. Mas ele é diferente. Foi impossível não cair de amores por ele. E por isso mesmo tenho de continuar, ver onde consigo chegar, por mais que me custe, como já está a custar. Ele não tem agido bem comigo (não vou minimizar o que ele me fez), dizendo que era melhor não falarmos, etc. Mas nunca me tratou mal. E nada na vida é entregue de mão beijada. Se uma pessoa não vai à luta não conquista nada. Eu morreria velho se ficasse à espera dele. Se fui eu que me apaixonei, sou eu que tenho de me esforçar e fazê-lo ver o quanto ele está errado e enganado em releção a mim. Até ele ter a mente limpa da homofobia alheia (nomeadamente dos amigos e, no geral, do ambiente social onde se insere) a minha missão é transformá-lo numa pessoa ainda melhor, não só porque gosto dele, mas porque ele merece.

A desesperar...

Quarta-feira, dia 15 de Dezembro. Seguramente, um dos dias mais tristes de toda a minha vida. Os sintomas são de alguém com depressão, mas recuso-me aceitar essa realidade. Estou imerso num mar de emoções, actualmente. Medo, angústia, desilusão, tristeza, sofrimento, paixão, desconfiança.
A tarde passada, às voltas no Facebook, acabei por dar com a página do Hugo. Eu jurei que não iria lá novamente até ao momento da revelação. Acontece que vi a foto dele noutro perfil e não resisti. Ele está estonteantemente bonito. Ainda acredito e quero acreditar que essa beleza física se reflecte no interior, no caso dele. Depois de ver aquilo tudo, os amigos dele, fiquei em baixo. Não sei explicar. Senti-me uma carta fora do baralho. Senti que não pertencia ali, que não tinha o direito a estar ali, que se quiser entrar ali à força (na vida dele) vou dar-me mal, que vou ser humilhado. Tenho essa sensação que me tem apoquentado há já um bom tempo. Saí dali e fui para o WC da faculdade chorar. Ali fiquei um tempo, com a porta fechada, a chorar em silêncio. Foi um dos momentos mais decadentes da minha vida e junta-se ao episódio em que chorei às escuras nas escadas do prédio, há uns meses atrás. Já são vários (amigos mais próximos e outras pessoas com quem partilhei a minha história via internet) aqueles que me dizem não posso permitir ser desprezado assim por alguém, para saltar fora, etc. Quem me dera que as coisas fossem assim tão simples. Eu não posso desistir de alguém que já faz parte de mim. Não consigo. A verdade é: o Hugo não é má pessoa como ele quer fazer transparecer. Talvez a frieza que ele adoptou em relação a mim foi uma forma de ele me ter longe por não saber lidar comigo ou por ter vergonha. Não creio que o tenha feito por maldade ou intenção. Ele não me parece ser assim. Creio que o meio social onde ele se insere exerce alguma influência negativa sobre ele mas não vou aqui atacar ninguém. Ele tem o direito a ter como amigos quem ele quiser. Acontece que isso está a impedir-me de aproximar. Parece que tenho um muro enorme para saltar. A dificuldade em pulá-lo chama-se vergonha. Tenho medo de ser julgado e gozado. Preferia que ele guardasse para ele tudo o que ainda lhe irei contar. Receio um pouco que ele não o faça, apesar de confiar nele cegamente, como já lhe disse anteriormente.
Ele parece-me irredutível, não se comove com nada do que eu digo (pelo menos não quer mostrar isso). Eu pergunto-me que mal terei eu feito para merecer um castigo destes? Eu apenas gosta dele e nada mais. Será que isso causou uma confusão grande dentro da cabeça dele? Porque é que estou a ser castigado assim só porque amo? Amar é diferente de odiar, e no meu caso parecem, ironicamente, representar a mesma coisa. O meu maior presente de Natal seria a amizade dele. Uma noite destas sonhei que ele me tinha ligado para irmos ao cinema. Uma coisa simples, com que sonho desde que me apaixonei. Ele nem sequer imagina isso. Tenho esperanças que ele leia isto só para saber das minhas verdadeiras intenções. Entretanto estou a desesperar. Não encontro a luz ao fundo do túnel. Pelo que vi e li ele parece-me bem e feliz. É pena que mesmo sabendo que eu estou de rastos não me ajuda, por orgulho ou seja lá o que for. :'( Esta situação está a destruír-me e isto que digo é muito sincero.

O meu limite...

O fim-de-semana passado não poderia ter terminado da pior forma para mim. No sábado saí à noite como já não fazia há muito tempo até consegui divertir-me por umas horas. Mas no domingo as coisas não correram bem. Passando a explicar propriamente, senti-me mal fisicamente. Deu-me um ataque de nervos, pulsação fortíssima, batimento cardíaco irregular, palpitações. Não fui capaz de controlar. Estava disposto a ir para o hospital porque realmente não sabia o que se passava comigo. Fui-me vestir e calçar. Preparei-me para ir. Naquela hora estava em pânico, mas nunca deixei de pensar no motivo. Com o passar das horas, acalmei-me e fui reflectindo no sucedido. Ainda há bocado tive um mini ataque de nervos. Fiquei com a sensação de que o meu mal-estar psicológico passou a ser um mal-estar físico, ou melhor, fundiram-se. Após uma grande reflexão retiro disto algo muito simples: não sou de ferro, tenho limites como qualquer um. Ando a adiar o que tenho mesmo de fazer para me libertar, para viver em paz comigo. Sufoca-me, consome-me querer contar ao Hugo o que falta e não conseguir. Isso deverá ter despoletado em mim efeitos indesejados.
Há uns tempos disse que vou caminhando numa linha interminável, mas não. Ela tem fim. No final desse caminho avista-se um abismo. E se eu insistir em prosseguir perco-me na escuridão desse abismo. Mal consigo ver o outro lado. Quer isto dizer que há limites em tudo na vida. Eu não sou indestrutível, não sou capaz de aguentar tudo. Sou uma pessoa comum, com sentimentos e fraquezas. Pensei que aguentaria, mas enganei-me. O destino encarregou-se de me impôr um limite, mesmo quando a minha paixão não tem limites. Não posso ir muito mais longe do que isto. E não há escolhas. Só há um opção que já aceitei, pelo meu próprio bem. Esconder-me, virar as costas ao problema só me iria fazer pior.

O meu anjo imperfeito

No passado sábado à noite fiquei em casa e ali estava eu, à lareira, sozinho. Chorei muito, demais até para o meu gosto. Enquanto via a lenha arder, percebi que existe uma analogia entre o fogo e a minha vida. Sinto-me como lenha a arder, a ser consumida pelo forgo ardente que é a implacável vida, até que me transformo em cinza. Sinto um cansaço enorme, emocionalmente e mentalmente. O meu grande problema não foi a minha paixão não correspondida. Foi a forma como lidei com isso. Vivi demais este sentimento, pensei demasiadamente no Hugo. Dei-lhe precepitadamente o meu coração e ele atirou-o fora e nunca devia ter permitido isso. Simples como isso. Porém, a gravidade da situação vai mais fundo do que isto. Com esta rejeição e com este silêncio em que ele se protege, fiquei a pensar que não valho nada como pessoa. Desde muito pequeno que sofro de uma disfunção em termos de identidade de género. Não nasci propriamente como queria. Mas fui-me aceitando ao longo da minha adolescência, com alguma homofobia pelo meio. Escondi-me atrás da vaidade, protegi-me tentando sempre ser melhor do que todos no que fazia. Foi uma forma que encontrei para não me sentir rebaixado e nunca ser humilhado por ser assim. Ao ser desprezado pelo Hugo, pelo simples facto de ser quem sou, de ser assim, senti-me altamente afectado. Dói-me a alma desde então. Ele não me quer por perto, nem sequer como amigo, por eu ser um rapaz que o adora perdidamente e isso está a destruir-me. A minha auto-estima esvanesce-se. Eu não escolhi ser assim. Nasci assim. Segundo os/as poucos/as amigos/as que tenho aparentemente não há nada de errado comigo ainda que eu mesmo acredite pouco nisso. Já não consigo acreditar. Não lhe causei qualquer mal para ele me tratar com tanta indiferença e frieza, mesmo sabendo que eu gosto tanto dele ele prefere ignorar-me. É a escolha dele. Tenho de aceitar, por mais que me doa. O mundo é um lugar maluco no qual nunca saberei viver. As pessoas não sabem como lidar umas com as outras. Preferem confreternizar com os inimigos, fazer amizade com pessoas falsas, enquanto desprezam quem realmente gosta delas. De alguma forma, o meu caso encaixa-se aí. Admito que o Hugo é uma das pessoas mais sortudas de que tenho conhecimento. Eu estou longe disso, pois nunca terei ninguém que goste tanto de mim como eu gosto dele.
Há poucas coisas boas a retirar disto tudo, mas há. O Hugo despertou-me. A certo ponto, tive vontade de viver para lutar por aquilo que queria. Nunca tinha sentido algo tão frenético em 22 anos. Ele também fez-me sonhar, imaginar como nunca antes. Nos meus sonhos, fui livre, fui eu. Nos meus sonhos tive-o ao meu lado, a apoiar-me e eu a ele. Fomos cúmplices, amigos verdadeiros. Nos meus sonhos ele pediu-me perdão por tanto sofrimento que me causou, por tantas lágrimas que me fez chorar. Nos meus sonhos ele confessou-me os seus medos e angústias. Nos meus sonhos eu perdoei-o e ajudei-o. É duro aceitar-se a realidade tal qual como ela é, quando nos sonhos tudo é maravilhoso. O Hugo é o meu anjo imperfeito. Imperfeito por ter defeitos como todos nós; um anjo que eu sei que não me quer mal, que pensa de vez em quando em como eu sou um figura enigmática na sua vida, um anjo que se esforça para me compreender e não me fazer sofrer. O tempo urge. O que me resta fazer é contar-lhe quem sou (como já aqui tinha referido), na esperança de que olhando para mim, um dia, ele finalmente me compreenda.

A libertação

Nestes últimos dias fechei-me muito, afastei-me ainda mais de tudo que me rodeia, fingi estar dentro de uma bolha e dessa forma sentia-me imune a tudo o que me aconteceu. Mas hoje a bolha rebentou e eu fui-me fortemente abaixo, chorei demasiado e num ataque súbito de raiva "ataquei" o meu quarto. Para mim é cada vez mais evidente que estou a precisar de apoio psicológico especializado. E cada vez que penso que já chorei às escura em vãos de escadas, que já tomei comprimidos e que já descarreguei em objectos materiais fico ainda com mais certeza disso.
Isto que me tem acontecido ultimamente são efeitos colateriais da falta de determinação que me tem invadido. Eu quero contar ao Hugo o que resta saber (a minha identidade), mas não consigo. O medo da rejeição, o ódio que posso despoletar nele, o preconceito que o rodeia tanto a ele como a mim, bloqueiam-me as emoções e os sentimentos, principalmente a coragem. Estou a sofrer. Sofro porque sei que é a única coisa a ser feita e porque não estou conseguir concretizá-la. Sinto-me só. Não posso contar com mais ninguém, só eu posso fazer isto e quem me ajudou foi um ombro amigo do qual não posso abusar mais. Adormeço a pensar no assunto, sonho com ele e acordo a pensar no assunto. Vivo num autêntico inferno. Sinto-me a queimar a cada dia. Cada dia que passa sem eu lhe contar é mais um bocado de mim que arde. A minha verdadeira intenção em revelhar-lhe a minha pessoa tem um motivo muito forte por trás: eu já não aguento viver na escuridão do anonimato. Não consigo viver mais assim. Ele precisa de saber quem eu sou, mesmo que em outra ocasião me tenha dito que não quer. Eu não o quero desrespeitar, desiludir ou enraivecer, mas eu preciso de fazer isto. Não suporto viver mais nas trevas. Quero representar algo na vida dele, algo a sério, substancial. Não posso ser mais uma assombração. A minha imagem precisa de ganhar forma. É isso que eu pretendo. Contudo, nada me garante que resulte nalguma coisa. Não é que eu queira muito. Diálogo por si só, para mim, já seria compensador. É um sonho que parece estar tão longe da realidade. Uma coisa tão simples e tão complicada, ao mesmo tempo. Ele defende-se numa muralha de silêncio e só Deus sabe o que ele pensa de mim. Enquanto isso, eu vou tentar saltar essa muralha e do outro lado não sei o que me espera. Espero que ele me perdoe esta "perseguição" e que um dia compreenda. Apetece-me somente chorar à sua frente, sem grandes conversas. As minhas lágrimas explicam muito mais do que qualquer palavra, no momento. Espero que um dia ele queira alguém que gosta tanto dele por perto, nem quee seja como amigo. A revelação vai ser um grande passo para mim. Vai ser uma libertação, aliás. A libertação que tanto procuro, há meses.