
Ele precisa de entender de uma vez por todas que eu não escolhi isto. Nem escolhi ser assim. Será que tenho de ser punido por algo que nunca controlei e que me ultrapassa? Verdade seja dita e tenho de estar ciente...A minha tarefa não é nem nunca foi flor que se cheire. Tenho cerca de 5 a 10% de hipóteses de conseguir chegar perto dele e essa escassa percentagem pode representar pena. E a pena dele não quero, de modo algum. Não o posso obrigar a aceitar-me, mas posso fazê-lo ver a verdade dos factos. Não quero pensar no futuro, que me assusta. Quero pensar no presente e no que tenho de fazer para me sentir melhor.
Senti-me, vezes sem conta, um castelo de cartas a um sopro de desmoronar, um desperdício de espaço, um saco plástico a flutuar no ar. Até cheguei a pôr em causa a minha existência e arrependo-me um bocado disso, já que a vida é tão curta e mal aproveitada. A minha vida tornou-se uma noite eterna, uma escuridão sem fim. Ele é o fogo de artíficio que me ilumina nessa escuridão. E eu preciso desse fogo de artíficio para colorir a vida cinzenta que tenho tido. Se existir uma faísca, há uma chance. Preciso urgentemente de luz e cor e de transformar a tempestade em arco-íris.