
De Janeiro a Maio tive medo de nunca arranjar forma de lhe contar o que sinto por ele. De Maio a Dezembro sinto medo que ele nunca me venha a comprender e a aceitar. E isso está a incomodar-me consideravelmente. Com o passar do tempo, sinto-me cada vez mais vazio, incompleto e cansado. Posso estar num sítio com 500 ou 1000 pessoas, sentirei-me sempre dessa forma. E garanto que isso não é, nem de perto, agradável. É muito doloroso para mim sentir-me incompreendido, sentir-me deslocado do todo. Sinto-me dentro de uma bolha a sufocar no meio de uma multidão que não irá sequer imaginar minimamente o que se passa comigo. Sinto-me suspenso no ar. Lembram-se de ter mencionado o facto de dar dois passos para a frente e três passos para três na linha interminável? Neste momento estou suspenso no ar, sem conseguir fazer nada, sem conseguir prosseguir.
Tenho medo de pedir ajuda e de ele não me acudir. É esse o meu maior medo. Acho que poderia dar alguma cor à vida dele, dar-lhe diversidade. Sei que não lhe causo repulsa mesmo encontrando-me ainda no anonimato, sei que represento um dos maiores mistérios da sua vida, talvez o maior. Cada vez mais preciso e anseio pela sua aprovação. Pela sua permissão. De certa forma, entrei na vida dele sem licença. Invadi o espaço dele, embora não o tenha feito por mal, como é lógico. Nem precisaria de dizer isso, nesta altura do campeonato.
Os meus pensamentos continuam a fluir quando o fim parece estar cada vez mais longe...E eu cada vez mais sozinho.