A libertação

Nestes últimos dias fechei-me muito, afastei-me ainda mais de tudo que me rodeia, fingi estar dentro de uma bolha e dessa forma sentia-me imune a tudo o que me aconteceu. Mas hoje a bolha rebentou e eu fui-me fortemente abaixo, chorei demasiado e num ataque súbito de raiva "ataquei" o meu quarto. Para mim é cada vez mais evidente que estou a precisar de apoio psicológico especializado. E cada vez que penso que já chorei às escura em vãos de escadas, que já tomei comprimidos e que já descarreguei em objectos materiais fico ainda com mais certeza disso.
Isto que me tem acontecido ultimamente são efeitos colateriais da falta de determinação que me tem invadido. Eu quero contar ao Hugo o que resta saber (a minha identidade), mas não consigo. O medo da rejeição, o ódio que posso despoletar nele, o preconceito que o rodeia tanto a ele como a mim, bloqueiam-me as emoções e os sentimentos, principalmente a coragem. Estou a sofrer. Sofro porque sei que é a única coisa a ser feita e porque não estou conseguir concretizá-la. Sinto-me só. Não posso contar com mais ninguém, só eu posso fazer isto e quem me ajudou foi um ombro amigo do qual não posso abusar mais. Adormeço a pensar no assunto, sonho com ele e acordo a pensar no assunto. Vivo num autêntico inferno. Sinto-me a queimar a cada dia. Cada dia que passa sem eu lhe contar é mais um bocado de mim que arde. A minha verdadeira intenção em revelhar-lhe a minha pessoa tem um motivo muito forte por trás: eu já não aguento viver na escuridão do anonimato. Não consigo viver mais assim. Ele precisa de saber quem eu sou, mesmo que em outra ocasião me tenha dito que não quer. Eu não o quero desrespeitar, desiludir ou enraivecer, mas eu preciso de fazer isto. Não suporto viver mais nas trevas. Quero representar algo na vida dele, algo a sério, substancial. Não posso ser mais uma assombração. A minha imagem precisa de ganhar forma. É isso que eu pretendo. Contudo, nada me garante que resulte nalguma coisa. Não é que eu queira muito. Diálogo por si só, para mim, já seria compensador. É um sonho que parece estar tão longe da realidade. Uma coisa tão simples e tão complicada, ao mesmo tempo. Ele defende-se numa muralha de silêncio e só Deus sabe o que ele pensa de mim. Enquanto isso, eu vou tentar saltar essa muralha e do outro lado não sei o que me espera. Espero que ele me perdoe esta "perseguição" e que um dia compreenda. Apetece-me somente chorar à sua frente, sem grandes conversas. As minhas lágrimas explicam muito mais do que qualquer palavra, no momento. Espero que um dia ele queira alguém que gosta tanto dele por perto, nem quee seja como amigo. A revelação vai ser um grande passo para mim. Vai ser uma libertação, aliás. A libertação que tanto procuro, há meses.

3 Response to "A libertação"

  1. José Says:

    Rapaz, se achas que deves contar, pensa nas consequências, mas pensa também de que forma isso te vai libertar...
    Faz um favor e pensa em ti...
    Procura a estabilidade, procura-te a ti!!!
    Sozinho com uma almofada consegui tomar muitas decisões...

    Acredita em ti...Só tu te podes fazer feliz!

    Abraço

  2. Miguel Says:

    Obrigado pelos teus últimos comentários. É sempre uma inspiração quando se sente que se comove alguém, nem que fosse só uma pessoa.

    Prefiro não pensar nas consequências porque caso contrário não conseguiria tomar qualquer atitude.

    Espero ler-te mais vezes. ;)

  3. José Says:

    Sabes Miguel, o problema é que as consequências vão-te afectar a ti, não a ele.
    Assim, e para pensar em ti, só espero que as consequências sejam positivas...Que te tragam libertação, esperança num futuro melhor, que deixes de ser escravo desse "amor"...Que consigas viver a tua vida...

    Mas vai pensando nisto que te vou dizer: PROTUCA-TE A TI MESMO!
    Procura as forças para seguires em frente ai dentro de ti...Elas existem. ACREDITA. Já tive que fazer isso, e é verdade, quando pensei que não conseguisse, ENCONTREI!