
Eu sou um no meio de biliões neste planeta. Não quero que ninguém se preocupe comigo, que tenha pena ou que me ajude. Sinceramente não quero, por isso é que não chamo a atenção de ninguém, com atitudes tresloucadas. Por isso mesmo é que sofro em silêncio há mais de um ano. O que eu queria mesmo era que este rapaz me compreendesse, que me visse a chorar, que me estendesse a mão e dissesse que vai ficar tudo bem. Só ele. Na verdade, eu nunca lhe pedi nada em concreto. Nunca lhe pedi ajuda embora ele soubesse que eu estava a sofrer. Eu só implorei-lhe para ele não me fazer isto. Ele ignorou-me completamente. E eu não sei, honestamente, como suportei esta rejeição. Ele percebeu tudo ao contrário. Viu tudo do avesso. Viu a questão por uma perspectiva em que a sexualidade era o mais importante. Eu nunca quis pôr as convicções dele em causa. Eu, acima de tudo, procurei um amigo. E embora isso possa não fazer sentido era exactamente o que eu procurava, um simples amigo. Como somos tão diferentes pensei que a amizade pudesse resultar. Mas ele foi egoísta. E eu fui ingénuo. Ele nunca vai sentir compaixão por mim. Ele nunca vai voltar atrás. Ele nunca me vai aceitar. Perdi. Falhei em todos os aspectos. Não vale a pena eu chorar, espernear, gritar porque nada disso o vai fazer querer-me na vida dele e estar perto dele. A minha vida é uma treta sem sentido algum. Eu tenho feito um esforço sobre-humano na faculdade para ir concluindo as cadeiras em atraso e tenho tido êxito nisso, mesmo que as notas não sejam grande coisa. Acho que afinal consigo licenciar-me este ano, mas isso já não me interessa mais. Odeio o curso, odeio a faculdade, odeio tudo o que lá vivi, tudo o que lá sofri, tudo o que lá chorei. Maldita a hora que fui para ali estudar. Isto tudo tem me revoltado, embora eu mal reaja. Odeio-me, odeio a farsa em que me tornei, odeio a farsa que é a minha vida. Odeio a podridão à minha volta, odeio o preconceito, odeio a indiferença, odeio a intolerância. Não suporto mais nada nem ninguém. Estou sozinho na minha angústia. Estou a sofrer demais. É uma dor indescritível que só me faz querer desaparecer para eu parar de sofrer e não sentir mais isto. Estou em pedaços e preciso de me recompor. Quero chegar ao Hugo e contar-lhe tudo, abrir o jogo, apresentar-me. E vou fazê-lo. Em condições normais nunca o conseguiria fazer, mas com os comprimidos que vou tomar hei-de ficar cá e lá e assim vou conseguir superar este pânico que sinto e falar com ele. Se perdi, não tenho mais nada a perder. Prefiro que ele me odeie e que eu o odeie a ele, prefiro que discutamos, prefiro qualquer coisa a isto. Isto é o inferno e eu quero sair daqui. E se ele ler isto um dia então acho que ele vai entender-me finalmente, que tudo tem um limite e eu cheguei ao meu. A situação tornou-se insustentável. Não dá mais para fugir, para tentar esquecer, etc. Não dá para recuar nem dá para estar em cima do muro. Só dá para saltar e prosseguir. Nada resultou. E aquelas 1000 estrelas lá no céu, as minhas testemunhas nas inúmeras noites de angústia, vão acompanhar-me também nesta última jornada.
Curiosidade: a imagem acima, que faz alusão às "1000 estrelas", foi a imagem que utilizei no primeiro perfil fictício que criei para contactar o Hugo na rede social. Foi a imagem que simbolizou o início. Tem um valor incalculável para mim e é a minha preferida de sempre.