Meditações

Continuo a nadar num mar de pensamentos. Parece que este blogue nunca mais vai ter um fim. Tenho sempre tantas coisas para contar... O pior é que pensar nisto tudo faz-me sofrer, magoa-me. É uma dor que arde intensamente e a ferida vai inflamando. A mágoa que carrego dentro de mim não tem dimensão. Ela só é uma vastidão.
Eu, tendo em consideração tudo pelo que tenho passado até aqui, tento convencer-me que sou um vencedor por ter suportado isto, por ter corrido atrás daquilo que eu achava que fazia sentido e que era certo, por nunca ter desistido. Mas isso é uma treta! Por dentro estou desfeito em pedaços. Já nem me lembro da última vez em que me sentia uma pessoa autenticamente feliz. Ultimamente, tenho pensado nas coisas que me deixaram mais vulnerável e, obviamente, triste. A escolha errada do curso, o eterno preconceito de pessoas invejosas e maldosas, a indiferença do Hugo pela minha pessoa e o desentendimento e consequente afastamento da minha mãe. Estes acontecimentos, todos juntos, acabaram com aquilo que eu havia construído uma vida inteira: a estabilidade e o equilíbrio do meu 'eu'.
São tempos difíceis, a adversidade impera. Esta quinta-feira passada, dia 23, tive um ataque de histeria ao ponto de querer destruir o meu quarto. Depois corri para a casa-de-banho e ali fiquei a chorar desesperadamente, no chão. São estes acontecimentos que me fazem crer que algo não está bem na minha vida. Não dá para ignorar. Não recebo acompanhamento psicológico por minha opção. Recuso-me porque se o recebesse seria admitir o meu fracasso pessoal e nada disto acabou! Uma vez fiz uma metáfora curiosa : comparei-me a um desses carros de corrida. Eu sou como eles. Vou a alta velocidade, a perseguir os meus sonhos, embora com o medo constante de me despistar e de me magoar. Mas esse é o preço da vida, certo? Se eu não arriscar, não sei o que conquisto ou não, não sei se venço ou perco a guerra. Ficar na dúvida? Nem pensar! Nesta altura do campeonato prefiro sofrer por arriscar do que por não arriscar. O Hugo brevemente vai ter notícias minhas, sem mais joguetes, sem mais disfarces. Vai ser o culminar de um ano e meio. Um ano e meio de curiosidade, de dúvida, de ansiedade, de desilusão, de sofrimento e de angústia. Esses são os resultados de uma paixão que nunca deveria ter acontecido. Foi dessa forma que o Hugo quis, subtilmente, que eu encarasse a situação. Mas eu não tenho culpa por ele ter a orientação sexual que tem, nem por eu ter a identidade de género que tenho. É isso mesmo! Estou cansado de rodeios. A partir de agora falo das coisas como elas realmente são. Vou entrar na vida do Hugo, mesmo sabendo que ele não me deseja nela. E isso está a acabar comigo. Mas eu preciso de fugir da escuridão e da vergonha em que me tenho refugiado. Ele precisa de me ver, de ser solidário comigo e sentir todo o sofrimento que vai cá dentro por causa dele. :( Não tenho nada para além das estrelas que me acompanham, jornada a jornada, nestas noites de agonia. E como minhas aliadas serão elas a iluminar o ainda longo caminho que tenho de percorrer até à pessoa que me modificou, de forma definitiva.

1 Response to "Meditações"

  1. Mércia Says:

    Oi Miguel! :)
    Sim, sua história foi além do oceano Atlântico.

    Eu fico feliz em ter conhecido a tua história, pois de alguma maneira, tuas palavras confortam-me. Tu consegues se expressar por meio de palavras e eu não. Mesmo histórias diferentes, temos algo em comum: sofremos por amores não correspondidos. Carma? Não sei. Apesar disso, fico feliz só de saber que ele existe, pois não sei que tipo de ser humano eu seria se não tivesse conhecido o Henrique (meu amor não correspondido). Talvez eu seria um ser humano vazio de sentimentos, egoísta. Pior são aquelas pessoas que nunca amaram e que não amam.
    São tempos difíceis, mas com certeza, tu sairás dessa escuridão renovado, e eu também.

    Nosso português é bem parecido, mas algumas palavras são diferentes. Espero ter me feito entender ;)

    Se cuida Miguel!
    Beijos!

    Mércia, Brasil