A dança que é a vida

Na vida dão-se passos que compõem uma dança. Umas vezes bons passos, outras vezes maus passos. A coreografia da vida nem sempre é executada da melhor forma, pois quando é para ir para trás vai-se para a frente, ou quando é para ir para um dos lados, vai-se para o lado oposto. E eu sei, por experiência própria, que nem sempre isso acontece ou é possível. Faz parte da natureza humana ter um par a certa altura da vida, um par para dançar a dança que é a vida. Eu não tive sorte na busca desse par, foi danificador e prejudicial para mim. Não dei os passos que devia ter dado.
Fugindo agora um pouco desta analogia, mas aproveitando a sua fatalidade, dei ontem com alguns dados que quero partilhar. Eu ainda não tinha referido oficialmente (somente na caixa de comentários de um post) que expus a minha história num fórum e que o feedback foi imenso e sou eternamente grato a cada pessoa que me apoiou. O que quero mencionar, e que me chocou para dizer a verdade, foi que no dia 29 de Janeiro deste ano eu já tinha interesse no H. Parece mentira, oxalá fosse. Nem eu acreditaria se não tivesse visto com os meus próprios olhos. Mas vi o post no tópico "Alguma vez se apaixonaram por 1 heterossexual?" e passo a citá-lo: "Comigo isto está a acontecer com um colega de curso. Ele bem pode ser heterossexual. Se ele for minimamente atento já me topou, não só como quem eu sou e como sou e também por olhar demais....Só não quero sofrer com isto e não vou ser capaz de me aproximar. Que situação horrível...". Portanto, em Janeiro, Fevereiro, Março já existia um interesse. Honestamente, não sei quando me apaixonei mesmo, mas deve ter sido logo após isso, em Abril ou Maio, altura em que lhe contei. Tanto que faz sentido, ele tinha uma importância tal para mim que mesmo o meu medo não me impediu de lhe ter contado nessa altura. Na mesma noite, a de ontem, acabei por pensar e repensar nisto tudo e enquanto estava na cozinha (já passavam das 2 horas) deu me vontade de chorar enquanto ouvia música. No momento dramático, encostei-me à parede e deslizei até ao chão. Parecia uma cena de telenovela. Às vezes, a minha vida parece-me tão surreal que é como se fosse mesmo uma telenovela.
Na dança que é a vida, na turbulência que é a vida, fazem-se escolhas, tomam-se atitudes, age-se, ri-se, chora-se, grita-se, discute-se, consente-se, brinca-se, perdoa-se, agradece-se, goza-se. Eu perdi-me de amores por alguém que prefere recorrer ao silêncio. O que posso eu fazer? Eu sei que não é fácil para ele, mas é para mim? O que posso retirar desse silêncio? A uma certa altura pensei que fosse desprezo, mas agora penso que não é isso e obtive uma prova que me diz que não lhe sou completamente indiferente. Não é que isso faça muito por mim, mas é alguma coisa. Eu sei que de certa forma, mesmo sendo estranho para ele, sou alguém que ele tenta desprezar, eu sei que o incomodo, que o deixo desconfortável e que até lhe suscito curiosidade. Isso entristece-me, porque mesmo fazendo a diferença, acho pouco. Mas sempre é melhor do que ser totalmente indiferente. Modéstia à parte, eu merecia mais. Empenhei-me tanto, passei mais de 10 meses da minha a vida a pensar nele dia e noite, chorei, esperneei e gritei nos momentos mais desesperantes, sempre sozinho, sempre. Isso nunca ninguém vai apagar da minha memória. Jamais. Tive de parar de me julgar, de me censurar, de me culpabilizar. Não estava certo. Aconteceu. Amar é humano, seja entre que idade, sexo, raça ou religião for. Eu tenho a noção de que fui eu que me intrometi na vida dele, que entrei nela sem pedir licença. Mas quero acreditar que foi tudo por uma boa causa, porque tive uma fé que me moveu que era superior a mim e a qualquer coisa neste planeta, algo transcendente. Sonhei, iludi-me, idealizei. Aí reconheço a culpa. Voei tão alto que acabei por perder as asas com a desilusão e a queda foi estrondosa. Ele cortou-me as asas. Eu não fui capaz de desistir e continuei a sofrer. Sofreria se tivesse desistido também. Contei-lhe coisas, disse outras, com uma franqueza tal que é quase impossível fazê-lo do mesmo modo com outra pessoa. Sinto-me tão à vontade com ele para falar de tudo o que quero, mas ao mesmo tempo sinto um medo descomunal e sem paralelo. O medo da rejeição, da decepção e da reprovação. A presença dele pôs-me, tantas vezes, a tremer literalmente. A minha paixão ainda é um enigma por desvendar. Só sei que deu-se aquele clique. Eu nunca gostei de alguém assim. Durante o meu assalto, vendo a minha vida por um triz, ali naquele momento pensei em duas pessoas: na minha mãe e no H. Isso deve significar algo, não?
Perdi-me na dança que é a vida e falhei os passos. E vida é mesmo isto, errar, sofrer, e enquanto erro e sofro é sinal de que estou a viver. E enquanto respiro, há esperança. E enquanto vivo, estou à procura – à procura dele na escuridão infinita que me rodeia.

0 Response to "A dança que é a vida"