Talvez por não ter tido um ombro amigo em que chorar, por não ter ouvido uma voz a dar-me conselhos é que deixei esta paixão rebentar da maneira que rebentou ao ponto de me sacudir assim. Parece que explodiu uma bomba dentro de mim. Sinto-me desfeito, em mil pedaços. Foi por não ter tido uma orientação, por me ter perdido neste labirinto imenso, que não consegui impor limites. A minha paixão não foi delimitada; o que sinto pelo Hugo é infinito e irreplicável. Nem sei ao certo até que ponto gosto dele e essa incerteza assusta-me. A sensação com que fico é que a distância, a rejeição e a indiferença não serviram de limites (embora ele tenha pensado que assim fossem quando mos impôs); foram, pelo contrário, o fogo que inflamou esta paixão descontrolada.
Mas tem de haver limites e há, só que podem não funcionar e de uma forma ou de outra chega-se lá. Eu acabei de lá chegar porque não consigo mais. O Hugo impôs-me limites como eu disse acima, mas não funcionaram. A situação em que ficámos é incerta. Do lado dele pode ter ficado tudo claro e resolvido; do meu não. Desisti de querer convencê-lo, de querer mudá-lo, de querer comovê-lo. Apaixonei-me pelo modo como ele é, não pela forma como eu queria que ele fosse. Mesmo que eu conseguisse modificá-lo a meu belo proveito, quem me garante que eu iria continuar a gostar dele tão intensamente? Provavelmente, não iria porque não seria aquela maneira de ser dele que me cativou. E é aqui que mora a nossa incompatibilidade. Só queria deixar de sentir isto como se fosse um erro irremediável. Só queria que ficássemos bem, que respeitássemos as maneiras de ser um do outro para podermos seguir os nossos caminhos como ele tanto deseja. Mas com esta indiferença toda eu vou continuar a fantasiar e à procura de maneiras de o alcançar, o que é altamente desgastante e perigoso para a minha saúde mental e também física.
Não há volta a dar. Não é possível voltar ao passado para tentar corrigir as coisas. É tarde demais para criar barreiras de protecção; é tarde demais para impor limites. Resta-me suportar e gerir as consequências dos meus indesejados sentimentos e dos meus arrojados actos. A questão fica no ar: mereço eu esta punição por algo que não escolhi e não procurei?