Da opção à obrigação

Dia 16 de Dezembro de 2010. Mais um dia deprimente, um de tantos numa semana melancólica. Se eu pensava que andava triste nos últimos meses, então é porque ainda não tinha chegado a este ponto. Isto é que é realmente estar triste. Antes de sair de casa, para mais um dia na atribulada cidade de Lisboa, tive de chorar. Deu-me vontade e deixei as lágrimas cair. Agora raros são os momentos em que o Hugo não está no meu pensamento. Em vez disso me fazer sorrir, faz-me chorar porque apesar de eu estar meio afectado psicologicamente, ainda consigo ver que as coisas não têm tomado o seu melhor rumo e se calhar a culpa também é minha. Faculdade, jantar no centro comercial (onde tive outro ataque de ansiedade), vinda para casa. Continuo na mesma. Há bocado, estava aqui no computador e vi uma foto dele e deu-me vontade de ver, mesmo que isso já não me faça bem. Olhei, sorri, e sem vergonha confesso, que lhe dei um beijo no rosto. Nunca o tinha feito. Ficou a marca no visor por eu estar a usar protector de lábios. Depois, fui para a varanda contemplar as estrelas e enquanto ouvia isto chorei.
O mundo desabou em cima da minha cabeça. Parece-me tudo tão errado. Está tudo mal. A minha vida simplesmente não tem sentido. Folgo em saber que ele está bem. Ainda assim, tenho esperança de que ele não se esqueça de como estou. Mesmo estando mal assim, preocupo-me com ele e com os meus amigos. Isto porque pus sempre os outros à minha frente. Acho que vou ser sempre assim, embora numa tentativa de emancipação nunca o demonstre. Continuo a ser uma pessoa responsável e ambiciosa, mas faço o que tenho a fazer sem gosto nenhum. Essa é a grande diferença desde há um ano para cá.
Estou a ficar obcecado com a hipótese dos amigos dele me chatearam após eu contar-lhe quem realmente sou e sinto muito medo disso. Pensei nisso enquanto estava na varanda. Vou implorar-lhe que não conte a ninguém e que não me cause mal algum. As razões são óbvias: eu estou longe de ser um inimigo. Eu quero e tenho de fazer isto. Já não se trata de uma opção, mas de uma obrigação. Agora é só uma questão de tempo. Vou continuar e vou insistir nisto, mesmo desaconselhado a fazê-lo. Todos estão com o coração no sítio certo e sei que querem o meu bem. Não vou defendê-lo ou descupabilizá-lo. Eu sou ao primeiro a repudir as suas atitudes. Mas eu sei que este rapaz tem um bom íntimo, que é uma pessoa bondosa e culta. Eu sei, eu sinto. Eu não inveitei isso. Eu nunca me apaixonaria por alguém reles e vil. Eu estive a minha vida toda na defensiva a impedir isso. A minha vida foi e é uma constante luta nesse sentido (manter-me longe de gente que não presta). Noutras palavras, briguei contra o destino para evitar desilusões amorosas. Mas ele é diferente. Foi impossível não cair de amores por ele. E por isso mesmo tenho de continuar, ver onde consigo chegar, por mais que me custe, como já está a custar. Ele não tem agido bem comigo (não vou minimizar o que ele me fez), dizendo que era melhor não falarmos, etc. Mas nunca me tratou mal. E nada na vida é entregue de mão beijada. Se uma pessoa não vai à luta não conquista nada. Eu morreria velho se ficasse à espera dele. Se fui eu que me apaixonei, sou eu que tenho de me esforçar e fazê-lo ver o quanto ele está errado e enganado em releção a mim. Até ele ter a mente limpa da homofobia alheia (nomeadamente dos amigos e, no geral, do ambiente social onde se insere) a minha missão é transformá-lo numa pessoa ainda melhor, não só porque gosto dele, mas porque ele merece.

1 Response to "Da opção à obrigação"

  1. José Says:

    Aplaudo-te por seres assim tão forte!