Mais confissões de um coração partido


Não sei porque é que ele não consegue fazer um esforço e aceitar-me. Não sei porque é que ele não consegue colocar-se no meu lugar, entender o que sinto e em que isto me tornou. Se eu cresci e amadureci como pessoa depois disto, porque é que ele não cresce e amadurece também? Porque é que sou só eu a sofrer quando o que sinto envolve não uma mas duas pessoas? Porque é que para ele eu não valho absolutamente nada?
Nas últimas madrugadas tenho estado completamente sem sono. Tive tempo para pensar nalgumas coisas. Uma das quais foram os meus tempos de transição liceu-faculdade. Lisboa nunca foi uma alternativa. Lisboa foi sempre aquilo que quis. Nem sequer coloquei a hipótese de não vir para cá estudar. É como se já estivesse pré-definido assim e assim teria de acontecer. Não deixa de ser estranho, mas parece que eu tinha de vir para cá para que uma série de eventos fossem acontecer. Há um episódio intrigante do qual não me esqueci: uma visita de estudo a Lisboa, no início de 2006 (ainda não frequentava a faculdade). Estava em Belém, com os meus colegas, e o grupo ia mais à frente e surge-me uma cigana que bateu o olhar em mim e disse-me "Há ou vai haver um homem muito importante na sua vida. Venha que eu leio-lhe a mão." Foi uma das coisas mais esquisitas e assustadoras que me aconteceu, mas não dei importância nenhuma áquilo. Nunca dei importância ao aspecto amoroso, até porque os estudos estiveram sempre em primeiro. Os meus primeiros tempos na capital foram magníficos. Já lá vão 4 anos desde então. Vivi momentos mágicos, inesquecíveis. Algumas pessoas foram-se, outras ficaram. Mas não me aborreço por causa disso. As amizades que se dissipam com o tempo é porque não valiam mesmo a pena. Eu era feliz! Eu acordava com vontade. Não tinha preocupações nem paranóias. Era livre como um passarinho! Sinto muito a falta dessa época. Aliás, para o meu bem-estar psicológico preciso de revivê-la e saboreá-la novamente, nem que seja um pouco. Mas agora é tudo diferente. Tive de ceder, deixei alguém comandar-me e o Hugo faz definitivamente parte de mim e da minha vida.
Difícilmente, depois desta situação, serei a mesma pessoa. Como disse, amadureci. Não digo que me tornei uma melhor pessoa. Continuo a ser fútil, extremamente ambicioso, calculista, entre outras coisas, mas pelo menos dou mais valor ao amor, à paixão, até mesmo à amizade. Não se pode ter tudo. Não se obtém tudo que o se pretende. Eu pensei sempre assim porque fui mimado. Quando nutri sentimentos pelo Hugo o meu mundo era cor-de-rosa. Não foi preciso muito para ele se tornar o que é hoje: preto, escuro, sombrio. A questão é que eu vou continuar a gostar dele. Isto envolve-me de tal forma que não consigo fugir. Não dá para remar contra a maré. Eu tentei, mas não consegui. Sinto um vazio em mim que é indescrítivel. Estou a isolar-me cada vez mais. Precisei dele, principalmente como amigo, mas ele não esteve lá. Ele preferiu pôr o preconceito, a vergonha e até mesmo os amigos dele à minha frente. Eu poderia pintar-me de ouro, porém não ia adiantar. Enquanto ele não amadurecer é inútil tentar. Tudo o que fiz foi isso mesmo: inútil. Contar-lhe o que sentia, pedir-lhe ajuda, foi tudo inútil. Serei eu inútil? Porque é que ele me faz sentir como tal?
Não há diálogo quando uma pessoa quer estar longe da outra. E não é que eu queira fazer-lhe algum mal...É ele que pôs isso na cabeça. Deixou o preconceito e a vergonha colocarem-se acima dele e acima de mim. E eu não posso lutar contra isso. Nem é suposto fazê-lo. Não o posso obrigar a falar. Por outro lado, não posso dialogar com uma parede. Falar-lhe é escusado. E, neste ponto da situação, não sei mais o que fazer.
A vida é como um jogo...Vai-se ganhando ou perdendo. Mas nunca uma vitória ou uma derrota são definitivas neste jogo. Por agora, fui perdendo umas rondas. Todavia, ainda não me preparei mentalmente para desistir ou para perder o jogo inteiro. Seja uma causa perdida ou não, esta é a minha vida.

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