Todas as coisas (vida)

Estava destinado eu apaixonar-me pelo Hugo? E se eu nunca tivesse ido estudar para Lisboa? Para aquela exacta faculdade? E se eu nunca tivesse frequentado o mesmo curso que ele? E se ele nunca me tivesse surgido à frente? Seria tudo igual? Iria acontecer, de uma forma ou de outra? Vivo tão depressa que nunca parei para pensar seriamente sobre isto. A velocidade da vida cega-nos. Queremos viver tudo, momento por momento, ao mais pequeno pormenor, mas acabamos por viver tão pouco, ou não fosse a linha da vida curta. Queremos viver tudo, muitas vezes sem resposta às nossas questão mais essenciais. O tempo passa, em momentos. Momentos que passando rapidamente definem o percurso de uma vida e conduzem inequivocamente para o seu final. Raramente paramos para analisar o percurso, para ver que nada acontece por acaso. Para perceber se o percurso que seguimos na vida é definido por nós ou se é, simplesmente, um caminho que percorremos de olhos fechados. E se pudéssemos parar, fazer uma pausa para avaliar um momento precioso antes que passe? Talvez vivessemos as bifurcações da estrada que modelou a vida e, observando essas escolhas, escolheríamos outro caminho? Quantas vidas diferentes teremos, se fizermos escolhas diferentes? Não sabemos. E se houver apenas uma escolha? Todas as outras estão erradas e há indícios ao longo do percurso aos quais temos de prestar atenção. Então, todas as escolhas conduziriam a este momento. Uma curva no sítio errado e não estaria aqui agora a escrever isto. Isso tem muito significado. Mais do que se possa imaginar.
Eu aceitei a minha vida, porque é minha e de mais ninguém. É a única coisa importante que tenho neste mundo. Ninguém ma tira. Eu sofro e sofro, mas não a trocaria. O Hugo entrou na minha vida sem permissão. Simplesmente apareceu, mesmo sem saber o que iria provocar em mim. E eu surgi na vida dele, invadi-a sem permissão e ele também não sabia que era isso que eu ia fazer. Estava destinado a acontecer. Não pode ter sido coincidência. Uma coincidência esquece-se e eu nunca esqueci isto. Mais: faz parte de mim agora. Vivo do passado, sem perspectivas no futuro, enquanto o agoniante presente me cerca por todos os lados. Esta é a minha vida: ruim, reles, defeituosa, mas minha. Resume-se a uma máscara, a uma desilusão amorosa, a uma dúvida sobre a vocação profissional. Aceitei igualmente a minha sorte. Tudo o que fiz voltaria a fazer porque eu acredito nos meus ideais. E enquanto há vida, há esperança!

1 Response to "Todas as coisas (vida)"

  1. José Says:

    Já imensas vezes li este post...Por diversas vezes quis comentar...Mas não sai nada...

    Penso apenas: vale a pena, no presente, pensar no que fariamos se voltassemos a viver o passado?

    As pessoas dizem que não, que voltavam a fazer tudo de novo, que viviam tudo de novo.Não acredito que gostassem e passassem mesmo por tudo o que passaram...

    Se pudesse voltava três anos atrás e se calhar voltava a fazer algumas coisas, mas por outro lado, se lá soubesse o que sei hoje, não o fazia!

    É um caminho de olhos fechados o que fazemos nesta vida, as vezes tão ingrato para cada um de nós.

    Importa é viver!
    É isso ou não é o que fazemos aqui, Miguel?

    Abraço