Tão perto e tão longe

Um dos meus grandes problemas é efectivamente a distância. Pensei que a distância me fosse ajudar a espairecer, a organizar as ideias, a acalmar-me. Por algum tempo, teve efeito. Ver o Hugo diariamente estava a dar cabo de mim. Estar perto dele foi como uma mutilação psicológica para mim, porque estava ali perto e à vista, mas eu não podia fazer absolutamente nada, pelo menos nada que não me expusesse. Aguentei aquilo, acabei por me conformar. Quando soube que ele ia continuar a estudar, mas noutra faculdade, foi duplamente um alívio e uma tristeza. Eu sabia que ia ser bom não tê-lo tão por perto. Eu precisava de tempo e espaço para contar-lhe a derradeira verdade. Por outro lado, isso agora não me está a fazer bem. Sinto uma vazio em mim que não sei nem sequer descrever, nem consigo medi-lo. As saudades estão a destuir-me. Estou a morrer por dentro. Estou a sofrer como nunca antes e o pior de tudo: a sofrer em silêncio. Quando estou só choro, grito, pontapeio as coisas, parto outras tantas, esperneio. Já aqui disse o quanto eu sinto a presença dele na faculdade. Recordo-me a toda a hora dele e das sensações que tive enquanto ele a frequentava. E vou contar agora algumas situações (não contei antes porque ainda não me sentia preparado para o fazer e porque sei que são formas de ele me identificar). Houve uma vez que eu estava a estudar na biblioteca, e ouvi gente a chegar. Ao levantar a cabeça deparo-me com ele e com os dois dos seus colegas/amigos preferidos. Durante aqueles minutos eu transcendi-me. Senti um estímulo, um desconforto agradável, um pavor apetecível, muitos nervos. À saída, reparei que ele olhou duas vezes para trás, porrém não posso dizer se foi na minha direcção até porque estava uma pilha de nervos e não me consigo lembrar claramente. Recordo-me de outra circunstância, em que ele estava numa das mesas de convívio e eu vi-o com os amigos e eu voltei para trás; resolvi dar uma volta enorme para não ter de passar por ali. Aquilo aconteceu já numa fase adiantada, quando eu percebi que gostava mesmo dele e depois de lhe ter contado o que sentia. É a prova de como eu lutei contra isto. Eu combati-me. Combati os meus sentimentos, lutei contra a minha paixão. Foi inútil! Tentar desviar-me dele só fez foi aumentar ainda mais o tamanho do que sinto. Outra coisa, da qual não me orgulho, foi ter faltado às aulas por causa dele. Nós tinhamos algumas cadeiras em comum. Uma das quais era uma das opcionais, que por isso mesmo tinha menos alunos, por estes estarem divididos. Eu sabia que estar numa sala de aula com ele, durante um semestre lectivo, ia ser uma tortura. Seria suícidio. Não aguentei aquela pressão, fartei-me de chorar porque sabia que me estava a prejudicar, mas não consegui lutar contra aquilo de forma nenhuma. Então a minha avaliação àquela cadeira foi em regime não presencial e fui a única pessoa presente no exame no qual tirei inesperadamente 14 valores. O professor foi super atencioso e apesar disso eu ali estava, a realizar uma prova muito em baixo. Houve uma altura em que o professor saiu da sala durante um tempo e eu deitei algumas lágrimas. É por isso que nem sei como tirei positiva naquilo. E agora nem interessa mais. Outra ocasião em que estivemos muito perto, foi num exame (foi mais do que um, na verdade). Mas lembro-me que naquele tivemos de mudar de sala e eu ia mesmo atrás dele e parece que ainda sinto as pernas a tremerem como tremeram naquele momento. Eu tinha o coração a bater tão depressa... Noutra vez, a última vez que eu vi pessoalmente (Verão passado), cruzámo-nos numa passadeira para peões. Era de noite e lembro-me que ele olhou propositadamente para mim. A verdade é que eu já tinha olhado para ele várias vezes e ele pode ter ficado desconfiado daquela pessoa que na realidade sou eu mesmo, este aqui a redigir.
Por causa disto e muito mais, aproveito para dizer, que estou a falhar como amigo. Há uma pessoa muito minha amiga e muito importante para mim que está a precisar de ajuda, creio eu, mas eu não estou lá. Esta pessoa foi um pilar na minha adolescência, ensinou-me muita coisa, aceitou-me como eu sou. Devo-lhe muito. Esta pessoa tem um filho que eu amo como qualquer um dos meus sobrinhos e de quem já sinto saudades enormes. Mas a questão é que não me sinto bem psicologicamente para prestar apoio a ninguém no momento. Não estou em condições de representar o meu papel de amigo, com muita pena minha. Simplesmente não consigo e sei que estou a abandonar quem um dia me estendeu a mão. Sempre fui um amigo presente. Nunca falhei com ninguém, mas neste ponto da minha vida tenho de pensar primeiro em mim e depois nos outros. Não é uma desculpa, mas é a realidade. Continuar a ajudar os outros, ignorando os meus próprios problemas, seria cavar a minha própria sepultura. E espero que um dia essa pessoa me perdoe, mas é que eu também nunca me senti tão mal como agora. Achei que devia constatar isto aqui, era um desabafo necessário.
O Hugo quer por perto os amigos e sabe-se lá quem mais. Eu tentei. Deus sabe que sim e sabe o quanto sofri com isto. Eu não posso é ser alguém que não sou. Se ele não me aceita, só tenho a lamentar mas eu não posso ser alguém que não sou. Não digo isto orgulhosamente. isto custa-me. Eu não gosto de mim, não gosto do que sou nem do que represento. Viver rodeado de preconceito por todos os lados é algo que não me deixa proprimanente alegre. Mas sou assim e ele não gosta. Nos meus momentos mais agoniantes peço sempre a Deus que transforme o mundo num lugar menos superficial, onde se dê mais valor à maneira de ser das pessoas, aos seus valores. Queria que o mundo fosse menos um lugar de aparências e mais um lugar onde a beleza interior reinasse. Isto está a matar-me. Eu não tenho sono, eu não tenho sossego, eu não tenho mais alegria de viver. A minha mente é um furacão a rodopiar com inúmeras emoções no seu interior. Quando ele me vedou a entrada na vida dele, vedou-me também o direito a viver. Estivemos tão perto, eu tive a oportunidade de lhe contar tudo ali, em pessoa, mas a vergonha e o medo dominaram-me. Estive tão perto de me libertar destas correntes invisíveis e desta mordaça, mas fracassei. Agora estamos longe. Ele numa faculdade e eu noutra. Ele com a vida dele e eu com a amostra de vida que tenho, que nem chega a ser uma vida no seu termo lato. Físicamente, até podemos estar longe. Mentalmente, ele está muito perto de mim. Penso nele constantemente. E sei que ele também se vai lembrando de mim, de vez em quando, perguntando-se sobre quem sou eu: a figura enigmática que surgiu no caminho dele. Perto ou longe, eu dediquei parte da minha vida a alguém que preferiu não querer conhecer-me a fundo e desfrutar de momentos divertidos na minha companhia. Isso é trágico. Para quê nascer e viver algum tempo para se chegar a uma situação destas? Qual é o propósito de eu viver? Perguntas retóricas com respostas mudas.
Desejos? Queria que a distância física entre mim e ele encurtasse. Queria poder voltar a vê-lo. Queria que esta barreira psicológica, que nos não só separa como afasta, desaparecesse para nunca mais aparecer. Queria poder estar perto dele, agarrar na mão dele e dizer que tem um amigo para a vida toda. Isto pode parecer tão estranho e eu sei que é (LOL). Caramba, eu sei. Nós mal nos conhecemos, mas não invalida o quanto eu lhe quero bem, o quanto eu simpatizo com ele. E isso NUNCA me aconteceu. Nunca! O Hugo é um paradoxo na minha vida. É a pessoa que menos bem conheço, mas de quem eu mais gosto e com quem mais simpatizo sem conhecer realmente. Eu não tenho maneira de explicar como nem porquê. Pura e simplesmente é assim. E queria que a nossa eventual amizade fosse tão simples quanto isso. Mas não é assim. Parece que a vida não é um mar de rosas..,É mais um caminho longo a percorrer cujo fim é uma incógnita.

1 Response to "Tão perto e tão longe"

  1. José Says:

    É tão dificil ler isto...

    Gostei dos teus relatos dos acontecimentos que foram passando com o Hugo...Sorri, sorri pois são momentos que jamais os largarás...Estarão sempre ali para serem recordados!

    Mas tudo é tão difícil, volto a dizer-te, que apesar de uma história bem diferente, há situações tão similares com a minha história...

    As vezes também apetece contar-te, mas não o sei como fazer...Pq as palavras também não saem!!!

    Um dia há de sair!!!