Aniversário, fantasia, fim de rodeios/jogos

Fiz anos e continuo igual (para o bem e para o mal). Até tive um dia de aniversário engraçado. Esperava que fosse pior. É pena que o carinho das pessoas não se divida pelo ano inteiro, em vez de o partilharem todo praticamente naquele dia. Mas isso não me cabe a mim a decidir. Ultrapassa-me. Diverti-me especialmente ao jantar, com outra aniversariante e outra pessoa chegada. Somos todos muito amigos, mas enquanto eu estava ali a jantar via como estávamos distantes. São duas pessoas que não fazem ideia do que tenho passado nos últimos tempos, porque faço um bom trabalho a disfarçar. E não vou contar. Prefiro que seja assim. Isto é algo muito pessoal e não me sinto confortável a expôr-me, mesmo que se tratem de amigos de infância. Muita gente felicitou-me, de diversas maneiras. Os meus pais encheram-me de dinheiro, para não variar, e está tudo resolvido para eles. Eu às vezes queixo-me da minha vida. Mas foi sempre assim. São ambos farinha do mesmo saco. Pessoas que eu adoro mais do que tudo na vida, mas que dão muito valor ao conforto, aos bens materiais e que raramente deram-me apoio quando precisei e nunca foram capazes de perceber quando eu estava em baixo. Pouca coisa mudou depois do divórcio e já lá vão anos. Isto custa-me, porque vejo-me por minha conta embora não seja independente. E caminhar para a minha independência é um dos meus próximos passos. O aniversário ajudou-me a clarificar essa ideia e é mesmo o caminho a seguir. Preciso disso. Preciso de me desprender. Aqui em Lisboa já faço vida por minha conta, mas não conta. Preciso de ser mais independente do que isso.
Esta situação está a destruir-me. Eu não acredito em mais nada. O que me aconteceu foi fatal, o que eu fiz foi insensato, o que o Hugo fez foi, no mínimo, despreocupado. Agora pago as consequências pela minha insensatez. Acreditei tanto que que ia conseguir lá chegar, a convicção era tão forte, que nunca previ um cenário tão negro. Vivia num mundo de fantasia. Naquele mundo, eu fui feliz. Naquela fantasia senti-me bem, ignorando o que por aí viria. A minha fantasia foi a minha forca. Caminhei para a minha capitulação. E aconteceu sem eu dar por isso, sem eu poder controlar. Mas porquê? É isso que quero entender. Eu preciso de saber. Que raio de vida é esta? Que raio fiz eu para merecer uma coisa destas? Isto está a custar-me tanto, tanto, tanto, mas tanto! Mais uma noite de choro. Não resisti e fui ver-me ao espelho com as lágrimas a escorrerem-me rosto abaixo. Quis ver directamente a minha tristeza. Não reconheci aquele rosto. Não sei do que é feito aquele bom humor diário, aquela alegria de viver, aquela vontade de lutar pelo futuro. Vi foi um rosto de alguém que se rendeu, de alguém que não sabe absolutamente o que fazer. Doeu-me a alma ao ver-me a chorar tanto. Esta pessoa não sou eu. Recuso-me a crer que isto me esteja a acontecer por causa de uma outra pessoa que pouco mais me disse "adeus e boa sorte". Não me posso ter rendido assim. Se Deus existe mesmo, como tanta gente afirma, Ele há-de me ver assim. Onde é que Ele está?
O que me magoa mesmo, mesmo, mesmo é eu olhar em redor e ver um por um feliz. Uns de uma maneira, outros de outra maneira. Mas estão bem. Estudam, trabalham, saem, divertem-se, amam-se, basicamente, vivem a vida. E eu cada vez isolo-me mais, cada vez afundo-me mais. Queria ser capaz de deixar queimar as minhas emoções, mas é em vão. Isto já está em mim. Chega de planear e prever. Quis contar ao Hugo no aniversário, mas desaconselharam-me para não manchar uma data tão especial. Parto do princípio que vai tudo correr mal. E deve mesmo ser assim. Mas é isto que vou fazer, sem mais rodeios, sem mais jogos. Tenho de enfrentá-lo. E num impulso vou acabar por fazê-lo. A partir de agora, pode ser a qualquer momento. Estou a preparar-me para o que aí vem, embora já não existam grandes forças. Isto vai acontecer

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